sexta-feira, 24 de julho de 2015

Gemona Del Friuli - Nordic Open


Após algumas semanas sem voar, estava pronto para o novo campeonato, de volta ao Norte da Itália, sim porque Gemona fica ao Norte de Veneza, uns 100km, próximo da fronteira dom Eslovenia e Áustria.  Local muito bom para o voo de parapente, com decolagem bem alta, vento relativamente constante do quadrante sul.  Possibilidade de voar em região plana e também em áreas montanhosas que já configura o início dos Alpes.  Voos para Eslovenia são possíveis, apenas importante mudar a língua do Italiano... para o Inglês, pois a língua local é meio difícil para nós brasileiros. 


A pequena Gemona de Friuli tem origem Pré Romana, desde o ano 611 já era citada nos livros, quando os Longobardos dominavam a região, mas prosperou mesmo nos 13/14 séculos, cobrava impostos das mercadorias que transitavam entre Itália e o Danúbio, depois foi dominada por Veneza e caiu em decadência, recentemente em 1976 foi destruída por um grande terremoto, mas já totalmente reconstruída.

Gemona del Friuli, centro histórico, um pouco antes do pouso

Mas voltando ao Nordic Open, é campeonato anual para os pilotos da Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e até mesmo para a pequena Islândia, que tem ao redor de 300.000 habitantes no país todo. Por regulamento eles oferecem 25% das vagas para estrangeiros, e eu consegui ser aceito porque fiz a inscrição meses atrás.  Por outro lado a organização aqui é terceirizada para o Brett Janaway e sua equipe que são ingleses.  É uma torre de babel linguística, mas todos falam bem inglês também, como é comum nestes países com educação de alto nível.  Grande parte dos pilotos está hospedado no Hotel Willy, que além de ser o QG também tem boas instalações de Camping, onde estou estacionado com o motorhome.   Único parte um pouco mais chata é a ferrovia ao lado, apesar de poucos trens a noite, quando passam incomodam.  

E todos gostam um pouquinho de voar... 

Briefing de segurança bem detalhado, feito em inglês, e não nas diversas línguas dos países Nórdicos, diferente do Campeonato na Macedônia onde havia tradução para o Húngaro o tempo todo.  Todos nós recebemos pulseira e uma carteira especial com todas informações de segurança, telefones, como é de praxe em campeonatos.  

As Provas
Prova #1 foi feita em cima da região plana, pois existia risco de super-desenvolvimento das nuvens nas montanhas, o que realmente acabou acontecendo em alguns locais mais distantes, sem afetar o campeonato em si.  Prova bem tática, larguei muito bem, voando por algum tempo no pelotão líder, mas sendo deixado para trás pelas velas de maior performance (Enzo2 + Boomerang 10).  Fizeram um prova meio curta, onde os vencedores fizeram em menos de 1h30, eu tive um pouco de sorte e terminei em #1 na prova, na categoria Sport.  Cometi um erro grande, numa montanha baixa que não consegui passar, e tive que andar um pouco para trás com medo do vento rotorizado a sotavento da montanha.  Muito interessante que aqui achamos ótimas térmicas em cima da calha bem larga de um rio que flui apenas no meio.

E com o calorão fomos para a "praia" no rio proximo, água geladíssima, apenas um problema para o único brasileiro, pois eles estão acostumados com frio.

Prova #2 foi bem diferente, infelizmente acabei largando muito mal, voamos para cima das montanhas, o que foi muito bonito, mas minha largada mais baixa significou que não consegui voar com o pelotão líder, aproveitando do conhecimento dos pilotos de ponta.  Mas fui no meio caminho, avançando posições rapidamente.  O visual fantástico das montanhas foi o destaque do dia, já que na planície o dia estava bem mais fraco.  Tive meio primeiro colapso grande desta vela, quando olhei para cima, parecia um grande pano amassado, mas a vela se comportou bem e rapidamente voltou a posição de voo sem muita interferência minha, e como foi simétrico, continue voando em frente.  Melhorando várias posições, fui impaciente, e deixei o grupo que estava voando para trás, e sozinho no azul na planície, tive um pouco mais de dificuldade, pois não conseguia alcançar o grupo da frente.  Não tive uma boa colocação, #49, mas fiz o goal que foi o mais importante.  Fui convidado para um ótimo jantar feito pela esposa do Andreas, em comemoração ao “meio do verão” , como é costume na Suécia, com direito a comida deliciosa, boas histórias, e iguarias Nórdicas.  Também veio um casal de origem Sueca mas que moram em Brisbane (Austrália) e o piloto é um dos “top” do pedaço.


O que está escrito na caneca ???? 

Prova #3 um dia estranho, com vento Leste, que não é comum na região.  Atrasaram a entrega da prova por um bom tempo, modificaram, pois ao invés de 1h para abertura da faixa, aumentaram para 1h30 pela dificuldade da decolagem.  Decolei cedo, e senti o ar bem turbulento, tinha que fazer as correções da vela com mais energia que o normal, ou seja estava levando pancadas mesmo.   Vi um reserva do tipo dirigível, Beamer, igual o meu, piloto lançou bem alto, mas não conseguiu pilotar o reserva, aliás estava subindo com ele mais do que eu, estava numa forte térmica.  Ele acabou aterrissando numa encosta alta da montanha, pois como não conseguiu pilotar o reserva (não entendi bem porque), não teve controle, saiu totalmente ileso.  Pouco tempo depois um outro incidente, desta vez mais sério, o que causou a interrupção da prova para chegada do helicóptero de resgate, impedindo a decolagem dos demais competidores.  Dia muito bom, forte e turbulento nas montanhas, que me deixaram meio desconfortável.   Terminamos indo de bicleta para o rio ao lado de Gemona para um refrescante banho nas suas águas geladas, o povo da Suécia/Noruega/Finlândia nem achava a água muito frio, mas eu vindo de “terras tropicalis” senti me diferente, mas o calor era tanto que a água gelada estava deliciosa.   A noite jantar oferecido pela organização, que foi ótimo para confraternização, aprendi bastante sobre os problemas da Grécia já que sentei na mesa do Grego que é o responsável pelo Live Track.

 E o visual das montanhas é fantástico

 Chegou no goal e conseguiu acertar as poucas árvores do pedaço, comigo quase... 

Prova #4 finalmente consegui pegar uma Van que foi direto para o topo da montanha, sim porque a estrada apesar de ser asfaltada em 90% do percurso, tem curvas muito fechadas e veículos muito grandes não conseguem subir.  Então apenas 60% das Vans vão até a decolagem, os que sobem nas outras tinham que esperar no meio do caminho para serem buscados.  Dia com vento mais fraco, Sul/SE, marcaram uma prova na região plana pois havia previsão de formação de Cumulus Nimbus nas montanhas, que realmente acabou ocorrendo no final da tarde.  Me posicionei melhor na largada, porém com medo de “varar” o teto máximo de 2.700m, saí um pouco mais baixo que muitos pilotos, mas o caminho até o primeiro ponto de virada nas montanhas, consegui voar bem, ficando sempre alto.  E assim foi o voo todo, na volta desviamos bastante para ficar em cima das montanhas, que estavam bem menos turbulentas que no dia anterior.  

No descampado a nossa rampa de decolagem, nada mais que um gramado gigante, bem inclinado 

Voando na área plana, sempre a parte mais difícil do voo, alguns dias funcionava bem outros...

Mesmo assim houve um reserva, do mesmo piloto que havia lançado no dia anterior, claramente ele não deveria voar 2 linhas, parece que já pos a venda seu Enzo2 ... Voei muito com as inúmeras velas Mantra 6 , EN-D da Ozone, e o dia rendeu bem.  No planeio final um grande susto, pois tinha saído com 600m de reserva e as fortes descendentes me jogaram para menos de 100m, que depois recuperei no caminho escolhendo bom caminho, alguns pilotos ficaram próximo ao goal, justamente por terem ido “justo demais”.   Acho que terminei em #1 na Sport, #25 na geral. 

Não dá para cansar desta paisagem... 

E finalmente a prova de sexta feira foi cancelado devido ao grande incêndio nas montanhas, apesar de não vermos nada, dois aviões tanque abasteciam de água no Mar Adriático, e voltavam para jogar água, passando ao nosso lado.  Com o NOTAM temporário só conseguimos uma janela das 13 as 15:00, então não deu para marcar prova, decolamos para voo local, e pouso em seguida.  Não custava eles desviarem um pouco, mas as negociações não deram certo, e só pudemos voar na hora do almoço dos pilotos...

 (foto retirada de um artigo de jornal)

Curiosidades: 
Piloto Finlandês jogou reserva dois dias seguidos, voa um Enzo2, e hoje sentou do meu lado na van subindo para a rampa, e falou que como tem um pouco de cérebro, não iria voar hoje, pois estava com muito pouca sorte, eu acho que foi o contrário, pois tendo jogado reserva (dirigível) em 2 dias consecutivos sem ter tido sequer um arranhão é muita sorte mesmo.  Claro que a vela é muito forte para ele... 

Espaço Aéreo: 
Além do ninho de pássaros, que devíamos evitar num raio de 500m sob pena de zerar o dia, tinha também a área de treinamento de Drones da Força Aérea.   Apenas no primeiro dia tivemos limitação de 2400m acima do nível do mar, depois aumentada para 2.700m, pois a 3.300m tinha treinamento de caças americanos.

Áreas proibidas durante o campeonato

Diversos
Uso de rastreadores da Flymaster (xTc) facilitaram muito o evento, não havia fila para retirada do aparelho ou entrega do voo, bastava deixar em cima da mesa, que a organização fazia o download do voo, evitando aquelas filas super chatas após o voo. No dia do vento Leste, o prazo para decolagem foi extendido por mais 30min, ou seja para 1h:30, no final a prova foi cancelada.
Muitas velas da Ozone, 16 Mantras 6, e 16 Enzos... 
No penúltimo dia mudaram minha nacionalidade de Alemão para Brasileiro, antes tarde do que nunca. 


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Macedonia => Itália


E após o campeonato Pré Europeu / Hungaro, foi hora de ir para Itália.  No começo da viagem levei o Indiano Gurpreet até uma pequena cidade Grega, de onde ele iria pegar um onibus para Thessalonik, eu segui viagem.  Acabei indo pela Grécia mesmo, pois o Ferry Boat permitia Camping On Board, que é dormir dentro do motorhome, diferente do transporte via Albânia, mais próximo, que não permitiam essa modalidade de viagem.

Peguei a famosa autopista Leste / Oeste, bem vazia por ser domingo, e pela crise que assola o país

 Vila encrustada na montanha

 Parei para comer algo, tive que apontar o que queria pois o cardápio estava complicado

Como cheguei cedo em Igoumenitsa fui até a praia matar o tempo, muito bacana 

Com um por do sol ótimo, enquanto cozinhava o jantar 

Já no Ferry Boat 

 E 10 horas depois o desembarque na Itália


E o paraíso no primeiro supermercado em Bari, depois de 2 1/2 semanas na pequena Kruschevo, a fartura de frios chamou atenção mesmo

Hungarian & Pre European Open

Campeonato Pre Europeu + Húngaro

Após o British Open, tive alguns dias de descanso, quando fui andar de bicicleta, lavar roupa, etc...  E estava 100% preparado para este novo campeonato, alguns pilotos ficaram para este campeonato, mas a maioria era gente nova mesmo.  Do ponto de vista humano foi muito interessante, um grupo de pilotos bem diferente do evento anterior.  Uma enorme mistura de nacionalidades, destacando-se em maior número os Húngaros, Sérvios, Macedônios além de pilotos da Lituânia, Ucrania, Polonia, e assim por diante, das Américas fui o único representante.  A idade média dos pilotos muito menor do que no campeonato Inglês, certamente deu um ritmo diferente, com pilotos mais competitivos e um pouco mais agressivos também. 

O custo de vida é baixíssimo, hospedagem num hotel menor com café da manhã custa 10 Euros, amiga Venezuelana/N. Zelândia alugou um quarto por 7 euros... Refeição sai de 3 a 4 Euros, valores imbatíveis na Europa toda (e diria que quase no mundo inteiro), lugar seguro com população simpática, nenhum piloto teve qualquer problema de segurança pessoal.  Zlatko e outros tem sistema de levar o pessoal para rampa de van, briefing e resgate já organizado, para quem não gosta de voar em campeonato.   Até um planador eu vi numa pista de grama próximo a Bitola, estava pronto para decolar, mas não o vi e vôo.

Provas
Tivemos os 3 primeiros dias, com tempo ruim, mas depois tudo voltou a melhorar, e voamos 3 provas com vento N/NE, portanto sempre um zigzag com pouso próximo a Grécia, após a cidade de Bitola.  A região é muito boa para o voo sem motor, só elogios mesmo, decolagem fácil, amplas possibilidades de pouso, por este motivo pelo menos uma dúzia de campeonatos são organizados neste lugar.   

No primeiro dia tivemos uma prova curta e rápida, com dia ainda fraco pois havia chovido um pouco nos dias anteriores, mas no final não tive dificuldades para chegar no goal.  Já no segundo dia, fiquei indeciso no posicionamento da largada, e acabei não indo nem no grupo que foi para frente e nem onde estavam a maioria dos pilotos, resultado que na largada eu estava baixo e mal posicionado.  Corri bastante atrás do atraso, saindo de térmicas mais fracas, largando grupo para trás, o que funcionou razoavelmente, pois consegui adiantar bastante em relação a maioria dos pilotos.  Mas não consegui nem chegar perto do primeiro pelotão, fiquei em #3 na prova, porém 200 pontos atrás do Martin e do Lituano... que chegaram muito bem, praticamente junto do primeiro pelotão.  Foi interessante no planeio final com acelerador no máximo (full bar), tive algumas pequenas fechadas na ponta direita da vela, aí tirava um pouco o pé freava um pouco e abria novamente, comportamente benigno para este vela EN-C.

Minha melhor prova em Krushevo
Já no terceiro dia eu queria tentar a 2da colocação, estava apenas 20 pontos do segundo colocado, do Martin já não conseguiria mais alcançar.  Me posicionei muito bem na largada, bem alto, um pouco mais ao Norte, devo ter largado uns 400m mais alto que 90% dos pilotos, que fizeram um caminho um pouco mais ao sul, bem ruim.  E derepente não achava mais parapentes na minha frente, e pensei bom, agora vou voar como se fosse “cross country”, liderei a prova durante um bom tempo, até as velas mais velozes me alcançaram.  Além de voarem mais rápido, eu estava voando sozinho, portanto de forma bem menos eficiente, arrisquei numa região onde descendente de -3m/s insistia em me jogar para baixo, mas sabia que valeria a pena, e logo a frente subi com térmica bem forte.   O dia ficou muito bom com base a 2500m, fomos matando cada pilão (ponto de virada) com certa facilidade, e escolhendo bastante caminhos consegui voar com velas mais rápidas.  Meu concorrente Lituano me passou, pois voa um Trango Xc3 tamanho enorme (L), mas não soube voar na frente sozinho, segundo ele mesmo ficou muito otimista por estar indo bem, e acabou pousando no meio do caminho.  Planeio final novamente cheguei muito alto, junto com os outros pilotos, pois o caminho para este pilão sempre sobe muito.  Chegada 7 segundos após o primeiro colocado da Sport em velocidade, mas tive mais pontos de liderança, terminando a prova em #6 na geral, o que para mim foi um resultado muito bem. 

Foi interessante o planeio final bem longo que fiz ao lado de várias velas, em especial a vela GTO2 da Gin, do excelente piloto polonês, a vela da Gin voa um pouco mais rápido que a Triton 2 que eu vôo, entretanto como trabalhava as linhas o tempo todo, acabei ficando mais alto, além disso é uma vela que necessita pilotagem mais ativa por parte do piloto, que levou uma pequena fechada próximo ao goal, chegamos ambos praticamente juntos.

Encerrando a temporada Macedônica, novamente fiquei no pódio com #2 na Sport, #1 em Time e #14 na geral.  Na cerimônia de encerramento entreguei bandeiras do Brasil para o staff do campeonato, como sinal de agradecimento ao impecável trabalho realizado.  Motoristas + Navegadores + Coordenador de Resgate + Pontuação, tudo funcionou muito bem.

Vale salientar a boa organização do Goran, que além de coordenar toda a organização está presente na comissão de provas, nas decolagens, efetuando briefings objetivos e rápidos e presente no goal também.  


#2 no Pódio ao lado do piloto local Martin