Dia do vento contra.
Estava decidido a decolar mais cedo, nos últimos dias sempre tive certo receio de decolar na hora “chave” dia. E porque isso ? Bom, no segundo dia de Valadares não interpretei direito as diversas indicações de vento no topo da montanha, e com uma brisa agradável, decolei levando pequenas fechadas dos 2 lados, com muita correção tudo deu certo, mas não havia entendido o que estava acontecendo. No dia seguinte, a Monica Wenna e o instrutor Húngaro (representante SOL no país homônimo) me explicaram que eu decolara justamente na hora de um pequeno dust devil.
A decolagem sempre foi um ponto fraco na minha pilotagem de parapente, mas vejo grande progresso na melhoria desta habilidade. Conforme as palavras do nosso amigo Martin Dealmere (o “Argentino” / Belga), “una pena que Valadares que es tan bonito de vôo tem a decolagem meio chata. Aqui o vento varia bastante, e muitas vezes é necessário aguardar muito minutos debaixo do sol escaldante para decolar.
Também muito interessante é a primeira subida, sempre crítica, pois a montanha “canaliza” as térmicas de tal forma que os pilotos tem dificuldades de encontrar térmicas próximo a decolagem. Claro que se formos encarar o paredão de pedra, marca registrada do Ibituruna, tudo sobe, mas aí a subida é forte demais, com risco de colapso da vela invertebrada, portanto local que pessoalmente evito até as 4 da tarde pelo menos.
O voo do ultimo dia de fevereiro de 2012 foi particularmente interessante, pois o vento estava de través em relação a rota, e até mesmo rodando um pouco para contra, em relação a rota “padrão” que é sobre a rodovia BR116. Minha decolagem foi para a rampa sul, no horário mais adiantado, 12:20, mas não quis rodar próximo a montanha e novamente perdi um pouco de altura. Apesar de rodar na borda do “degrau” consegui sustentar um pouco até ganhar um pouco de altura mas estava voando a 200m do relevo com razoável turbulência, por causa do desconforto e ausência de rápida subida, lá fui para o Sudoeste, em busca de uma térmica salvadora. Fiquei bem baixo, a 250m do chão mas sustentava bem, e cozinhei um pouco numa ascensão bem fraca, e derrepente alguns urubus voando próximo, encaixei bem no meio deles, e consegui subir bem. Valeu a pena ter a paciência de esperar a nova bolha subir. O Marcelo Mangonlin que estava do meu lado com seu Ellus teve menos paciência e foi para cima da cidade, e depois de ralar um pouco também começou a subir bem.
Mas o dia estava um pouco diferente, parapente não avançava muito, vento contra, fui aos poucos “sendo empurrado” para o Rio Doce, tudo meio turbulento, via parapentes bem mais altos que eu e outros “pregando” (termo usado para quem pousa no início do voo próximo a montanha), e não conseguia centrar bem as térmicas. Seria um gradiente de vento ? Não sei, mas foi fato que quase desisti de sair para o “cross”(navegação), pois não subia, e o vento me empurrava para cima do aeroporto, que é zona proibida de voo.
Escutando no rádio o avanço da turma de voo, Sérgio Pontremolez e Papão (Marcelo Giacomo) me animei a insistir um pouco mais e aos poucos o progresso veio.
Uma hora depois do início do boa quase pousei fiquei novamente muito baixo, menos de 150m do terreno, de longe vi 2 parapentes rodando na beira da rodovia, e como não pegava nada, fui até lá, sem subir tão bem como eles fui “sobrevivendo” e aos poucos consegui subir novamente. Foram 20 minutos de luta para não ir para o chão, engatando numa forte térmica que me jogou de volta para o alto. A partir deste momento o voo começou a funcionar melhor, voei sempre mais alto com nuvens mais bonitas mostrando o caminho.
Alguns parapente aqui e ali, mas no geral voei maior parte do tempo sozinho, escolhendo o próprio caminho, e sempre tentando voltar para a segurança de voar em cima da BR116, resgate mais fácil em caso de pouso. O vento lateral dificultava “voltar” para a BR, mas aos poucos ele foi virando de direção ficando mais de través que contra. Na região de Engenheiro Caldas, já voava paralelo a rodovia e indo para o lado das grandes pedras, fontes geradoras de boas térmicas. No rádio escutava de tempos em tempos os amigos com algumas dificuldades de progredir no voo também. Eles desviaram um pouco para a direita e não conseguiam mais retornar para o eixo da rodovia. No final resolveram ir para a Ipatinga rota bem mais a direita do que o eixo da rodovia principal rumo a Caratinga.
O parapente vermelho (Ozone Delta) que me acompanhou durante um trecho do voo desviou totalmente a esquerda, eu preferi uma rota mais direta para o objetivo que era a cidade de Caratinga. Tive um pouco mais de sucesso na escolha, especialmente na subida da serra para Dom Cavati no través de Tarumirim, onde subi com mais de 3m/s integrado, parecia até mais forte, mas esse é o lado psicológico, o que vale mesmo é a média da subida.
Fui para o lado direito da rota caçar nuvens bonitas após D Cavati, desvio que funcionou, mas pensando melhor depois, talvez teria alcançado maior distância se tivesse insistido um pouco mais na rota (decisão que parapente vermelho tomou). Fiquei baixo no meio do nada, mas consegui a ultima boa térmica do dia debaixo de uma grande nuvem. Aí rumo a escolha do pouso, estava em cima da rodovia de asfalto, Caratinga – Vargem Alegre, paralela a BR116, 7km a direita, região com poucas opções de pouso, muitos morros, cafezais e “plantação” de fios elétricos. Resolvei retornar um pouco para pousar num topo de marro, um antigo cafezal que virou pasto, local ideal para pouso com o capim alto e verdejante.
Pouso macio e tranquilo, as 17:29 da tarde, com o sol já bem baixo, dobrei todo o equipamento e rumei com a mochila de 20kg nas costas para a rodovia, e depois de uns 20 minutos caminhando, 4 cercas de arame farpado, cheguei a beira do asfalto. Logicamente o celular não tinha sinal, mas o SPOT (localizador GPS/comunicador satelital) já havia enviado SMS para o Reinaldo nosso excelente “resgateiro”. Local muito vazia, e já no lusco fusco do por do sol, descansei um pouco da caminhada montanha abaixo, e comecei a caminhar na beira da rodovia para o Norte, em direção da rodovia principal. Antes do pouso havia visto algumas edificações, mas como o pasto onde pousei era garantido pousei um pouco longe das casas. Caminhei durante uns 45min, chamando sem sucesso no rádio o resgate. E eis que surge um pequeno bar ao lado da rodovia. Com um celular ligado a uma antena gigante, tentamos contato sem sucesso, então aguardei alguns minutos a mais. Ao redor das 1930 o resgate chegou.
Foi meu voo de parapente mais longo, 5h10 com 92km voados em linha reta ou 99.9km distância OLC , vôo interessantíssimo. E graças ao SPOT o resgate foi rápido e certeiro. O Resgate andou 450km no dia !!! Entre 2 subidas para a rampa e o resgate dos outros 3 pilotos da nossa turma. As 21 chegamos de volta a Valadares com vontade de um bom jantar, novamente na Dna Conceição, no GV Mall :-)
Foi mais um ótimo dia de voo !
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