Pouso em Mayrhofen
A idéia inicial era voar em Mayrhofen
durante 1 semana, e passar 2-3 dias em Bassano.
Mas com o tempo ruim na região de Zillertal (vale que contém Mayrhofen),
resolvemos ir para Bassano e talvez voltar no meio da semana, caso o tempo
melhorasse. Voar nos Alpes requer
entender as cadeias montanhosas e como os ventos fluem pelos vales. Prever os ventos analisando os sistemas de
pressão nas várias regiões. Ou seja para
nós brasileiros o melhor é usar o conhecimento local para voar por lá. No dia que cheguei em Mayrhofen o vento
Foehn soprava com uma violência incrível, segundo o instrutor Kelly, é uma
situação totalmente não controlável, não dá para voar com parapente pois é
extremamente turbulento. O lado bom é
que hoje em dia com a internet, é de relativa previsibilidade.
Hotel em Mayrhofen, atrás um dos teleféricos em funcionamento
Não posso deixar de comentar que a região
de Mayrhofen é muito bonita, dezenas de pequenos hotéis que ficam lotados nas
férias de verão e inverno, todos meio vazios.
Passeios a pé, de bike com os teleféricos principais em
funcionamento. Também bons restaurantes,
mas o horário de jantar é bem cedo para os nossos padrões, a maioria fecha ao
redor das 22:00 !!
Já que não deu voo, o negócio foi apelar para bike, um frio lascado no topo da montanha
Em Bassano, ficamos hospedados no hotel
Garden Relais, sem duvida a melhor opção, pois fica ao lado do pouso oficial e
sede do clube de voo livre Monte Grappa.
Além de ter bons quartos, tem um excelente restaurante a preços
razoáveis. Tivemos que comprar o “Fly
Card” que é a taxa que cada piloto paga para o clube local, e serve de ajuda
para manter o pouso em boas condições além das decolagens é claro. Seguro de saúde e contra terceiros é
obrigatório, e recebemos um sinalizador de fumaça para o caso de pousar nas árvores
e necessitar resgate por helicóptero, ainda bem que ninguém precisou !
O detalhe nesta foto é o "Tree Rescue" , um sujeito que cobra Eur$300 para tirar o parapente do meio das árvores no caso de pouso enrolado
Treinamos por 2-3 horas inflar o parapente,
algo que eu realmente estava precisando fazer.
O vento vinha um pouco turbulento, mas deu para aproveitar bem. Inclusive resolvi aprender de vez a decolagem
“alpina”, treinando várias vezes no solo.
Bem no final da tarde, com o tempo limpando subimos para a rampa sul #2
, 100m mais baixa que a principal , ideal pois sempre mais vazia com bom espaço
para abrir os parapentes e abortar a decolagem com segurança na frente. Mas o vento catabático (que desce a montanha)
já estava soprando levemente, deixamos para o voo para o dia seguinte. Várias
decolagens no Monte Grappa, a nossa ficava a 550m do chão, a principal 100m
acima. Mas vi gente decolando até mesmo
a 1500m, num local que leva 1hora para chegar de carro.
Sempre recepcionado pelos cães brincalhões no pouso oficial
Exíguo painel de instrumentos do TO versão Parapente
Nos primeiros 2 dias decolei com o sistema
alpino, que o pessoal usa no RJ ou seja é correr para frente e a vela
levantar. No segundo voo, arranquei com
muita energia, e a vela passou, na segunda tentativa decolei sem maiores
problemas. Agora peguei confiança nesta
modalidade de decolagem, que é muito boa para vento fraco.
A turma de voo esperando o dia começar !
A decolagem que usamos quase todos os dias, não era a mais alta, mas bem confortável
O grupo era bem diverso, sendo que apenas o
Finlandês Lars tinha menos experiência de voo do que eu. Cada um com suas deficiências aprendia das
dicas passadas pelo instrutor Kelly. A
montanha é bem térmica, e a cada dia aprendemos um pouco mais de onde
desprendem as térmicas. Uma linha de
aproximadamente 10km é o cordão principal do Monte Grappa, e virou o nosso
playground principal. No final de
semana 2-3 planadores voaram conosco, também aproveitando as boas térmicas
geradas pelo relevo. Diferente do
Brasil, existem casas para TODOS os lados, na planície, parece que o norte da
Itália é uma sequência de pequenas vilas, e plantações familiares menores
ainda.
Monumento em honra aos mortos da 1ra Guerra mundial, onde os Reino da Itália combatia as tropas do exército Austro-Húngaro
Visual do vale que vai para o Norte em direção da Áustria
A cordilheira tem vários detalhes como o
monumento aos 60.000 mortos na primeira guerra mundial. Só no ultimo dia consegui chegar perto, pois
fica no ponto mais alto a 1800m do nível do mar (aproximadamente). Outro detalhe interessante é uma enorme
marcação na floresta com o WM escrito de outra forma que é atribuído aos
simpatizantes “Viva Mussolini” ou mais recentemente os politicamente corretos
dizem que é “Viva Madonna”.
Voando em cima do maciço de Monte Grappa, alguns colegas acima, este sou eu mesmo em boa foto tirada por Kelly
Fizemos algumas provas de distância, sempre
seguindo a cordilheira inicialmente, e depois indo para a planície. Bem esta ultima não funcionou na maior parte
dos dias, céu bem azul, forte inversão com térmicas fraquíssimas. A vantagem foi que tive que subir em térmicas
muito fracas e com isso aprimorando a capacidade de mapear térmica e subir sem
errar muito. Vários pilotos iam para o
chão nessas condições, mas todos foram aprendendo aos poucos. Pousei “fora” do oficial apenas 2x uma
sempre sem maiores dificuldades, e a não mais que 100m de uma rua
asfaltada. A densidade populacional da
região é grande, mas como existem bastante agricultura é fácil achar
pouso.
Preparando para decolar
Tinhamos o Luigi, que a bordo do possante
furgão VW vinha ao nosso encalço “pronto presto”. Experiente piloto de parapente local, sempre
nos ajudava para decolar, é um resgateiro muito profissional ! Durante alguns voos conseguimos voar em
turma, e foi muito interessante ver como escolher um bom caminho faz uma
diferença ENORME no resultado final, mesmo voando com parapentes de diferente
performance.
Em cima da ponte antiga de Bassano del Grappa, a primeira construída ao redor de 1200 !!!
Fiz alguns voos de 5h, e outros bem mais
curtos, no total foram 22h voadas em 7 dias , ou seja deu para aproveitar bem.
Sem grandes distâncias voadas, pois a meteorologia não ajudou muito. É interessante salientar que no final de semana enquanto eu
voei 10h , voando 40km por dia, pois não dava para ir longe na planície muitos
pilotos fizeram excelentes voos no meio dos Alpes. No domingo 17/06/2012 62 pilotos fizeram voos
acima de 100km, e 16 acima de 200km !!!
Foram lançados 700 voos no XCContest, tudo bem que a maioria dos voos
grande foram com velas C/D, mas mesmo assim !!! A região voada variou bastante,
mas sempre no meio dos Alpes e não nas extremidades planas.
Do pequeno museu da 1ra Guerra em Bassano, 1 Korona Austro-Húngara
Fechei o esquema de voo com a
AustrianArena, e funcionou bem para mim, a turma bem bacana, a fluência em
inglês é importante para compreender bem as dicas do instrutor, mas mesmo quem
não tiver a língua 100% pode aproveitar bastante também. Não tive que me preocupar com local de voo
ou resgate, tudo estava organizado. Várias dicas foram dadas pelo instrutor com o
objetivo de aperfeiçoar o vôo, ele ia corrigindo os pilotos algumas vezes da
rampa, e outras já voando, ele voou todos os dias, inclusive nas navegações
montadas (XCs).
Espero um dia poder voar nos Alpes de
verdade, pois desta vez não deu, mas a natureza não respeita agenda mas aproveitei bem a viagem.
Um comentário:
Fala grande, ótmimo relato de viagem!
estou proximo a bassano ate o dia 20, trouxe minha vela também, quero voar mas o tempo nao esta ajudando esta semana. Para voar lá devo pegar licença com alguém ou em algum lugar.. o pouso como funciona.. se tiver mais alguma dica eu agradeço!
Abs e bons voos
lfss20@hotmail.com
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