Primeira vez que participo de uma etapa do PWC (Paragliding World Cup), que tem ½ dúzia de etapas espalhadas pelo mundo. É uma competição aberta a pilotos que tenham pontuação para se classificar, das etapas dos campeonatos Nacionais e também Pré-PWCs. Existe apenas a classe aberta (open) que hoje é dominada pelos parapentes de 2 linhas como Enzo2, Boomerang 10 e Icepeak8. Eu vim voar para ganhar um pouco mais de experiência, pois minha vela (Gin Carrera) tem performance um pouco (?) inferior, competindo na Sport class, que aqui não existe.
Já a subida para o Monjolo, onde fica a rampa de decolagem, mostra a beleza da região, que tem muitas “rochas” gigantescas, parecem ter sido arremessadas do espaço, pois elas brotam por todo lado. Baixo Guandu fica a 170km de Vitória (ES) praticamente na divisa com Minas Gerais, a cidade vizinha Aymorés, fica em MG. A rampa é bem ampla, com decolagem tranquila, e desnível ao redor de 700m. Para este evento puseram carpete em toda a área da decolagem que do ar deu um colorido muito especial. Detalhe que pelo segundo dia consecutivo, só ucranianos a bordo da perua, daqui a pouco já falarei a língua deles !
Rampa, a vela azul petróleo é a minha, checando antes de conectar @Marjo
Prova do dia, 70km, no início as decolagens foram lentas por falta de vento, mas depois uma boa brisa facilitou a saída do chão. Decolei bem para trás, pois a fila era grande, e não consegui subir muito na frente da rampa. Fui uns 2/3km para frente, e levei um bom tempo para sair de perto do chão. Mesmo assim deu tempo de sobra para chegar próximo ao ponto de largada, um cilindro imaginário de 1km. Consegui largar razoavelmente bem, e foi impressionante ver a quantidade de parapentes 2 linhas acelerando, em poucos minutos quase todos me passaram. Fui usando o pessoal na minha frente como referencia de qual caminho seguir, mas os primeiros pelotões foram muito velozes, distanciando de mim rapidamente.
Pequenos pontos coloridos no horizonte, foi o que eu conseguia avistar após 1 hora de prova. Atravessamos o rio Doce para uma planície, que demandava um pouco de cuidado. O terreno aqui é bem heterogêneo, pois tem muitas montanhas, áreas planas e o Rio Doce, além do lago da represa da mesma. Fontes térmicas foram muito diversas durante o voo, desde o lado aquecido das rochas, até a subida no meio do rio. Bem diferente do que estou acostumado no Sudeste Brasileiro, onde rio é sinônimo de “frio” e ausência de térmicas. Nessa mesma planície vi um Boomerang10 girando de ré, e o piloto francês brigando para por a vela de volta para voar, mas o giro continuava e o piloto não conseguia resolver o problema. Perdi totalmente a concentração, apenas observado os giros e mais giros deste piloto. Estava bem alto quando isso começou, e numa altura ainda bem seguro, creio que a 500m do chão, ele lançou o paraquedas de reserva e pousou com segurança. Como será que ele poderia ter saído desta situação ? Saberei nos próximos dias...
Foi um dia bem interessante, pois vários grupos resolveram ir pela direita do rio e outros pela esquerda, estratégias diferentes com resultados certamente bem distintos. Como o primeiro pelotão se distanciou muito de mim, eu não consegui ver qual lado eles tinham escolhido, os tracklogs mais tarde mostrarão isso. Durante grande parte do voo tinha parapentes na minha frente e atrás também, mas eu estava quase sempre no ultimo grupo. Muito estranho olhar para trás e não ver mais ninguém, hahahahaha. Numa das travessias do rio Doce, fiquei um pouco baixo 500m, mas consegui subir bem. Mas no resto do voo voei alto, o que deixou o voo relativamente tranquilo
Para o planeio final, subi tudo que pude até a base da nuvem, ao redor de 1700m msl , mas mesmo assim alguns quilômetros adiante, vi que não tinha chance de chegar, e além da falta de opção de pouso, tinha que atravessar a calha cheia de pedra do rio, e uma sombra gigantesca, optei por voltar ou seja ir para trás na rota uns 4-5km. Isso destruiu completamente minha média de velocidade, no início subi lentamente com térmica menor do que 1m/s, mas buscando bastante, consegui achar algo mais forte, ao redor de 2.5m/s, e voltei para a base. Faltavam apenas 12 km para chegar no goal, e saí com 650m de reserva. Estava feliz que iria chegar no aeroporto de Baixo Guandu, que era o objetivo do dia.
Comecei a perder essa reserva, mas tinha certeza que ia chegar, pois 600m é muita reserva, fui na proa do pilão (ponto de virada) a direita do aeroporto, e avistei alguns parapentes pousando, mal sinal, mas insisti. Quando virei o ponto, estava com menos de 50km de reserva !!!!! Faltava muito pouco para o goal, uns 3km ou nem isso. Estava preparado para não chegar, pois poucas eram as opções de pouso, passei em cima da pedreira e o Flymaster mostrava 15m de reserva... Vi um morrote a minha frente, um bonito pasto, era lá que ia ficar. Mas eis que a reserva tinha parado de diminuir, ficou nos 15m, o que é pouco... Vi um avião taxiando pela pista, e mirei nele, estava parado na cabeceira da pista, aguardando eu pousar ou desistir de ir para o aeródromo. Mas como vi que flutuava bem, mirei para o começo da pista, mais perto apontei para faixa de chegada, pois se fosse pra cabeceira e depois para esquerda, não ia chegar no goal, que é apenas cumprido após passara faixa. Cada vez mais baixo, já com o pouso garantido no terreno do aeroporto, fui flutuando e passei a faixa a menos de 10 metros de altura. Goallllllllllllllllllll Foi a minha chegada mais “justa”que já tive em campeonatos de parapente, mas cheguei. Levei “apenas” 3h para fazer a prova que os vencedores levaram 1h:55m para ver como fui lento...
Uma pilota, veio andando, muito brava porque tinha pousado 800m antes da faixa, bem como vários pilotos que pousaram no caminhão. Ahhh e o Brasileiro Frank Brown ficou em terceiro lugar na prova !!! O amigo João de Aymorés, estava na pista também coordenando o tráfego com o rádio de mão, claro que após eu atrapalhar o tráfego do aeroporto, afinal o avião ficou queimando gasolina esperando eu pousar, não sei se serei tão bem vindo :-).
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