No
segundo dia de prova, as condições de tempo não estavam favoráveis, então fomos
visitar uma vinícola na mesma região onde eu havia pousado. Após a breve visita, pois chegamos muito
atrasados, passamos a degustação do ótimo vinho, de 3 qualidades
diferentes. Claro que todos ficaram no
mínimo meio altos, mas o Malbec realmente desceu muito bem, até mais do que o
Reserva especial que pareceu muito encorpado para mim.
Tanques de fermentação
No
terceiro dia do campeonato, após muitas discussões resolveram inverter o sentido da
prova, por causa do vento que em vez de soprar do Norte, insistia em vir do
sul. Nos mandaram para a parte mais
árida da região. Um pouco de turbulência
na primeira térmica próximo a decolagem, mas depois as condições de voo foram
normais, com térmicas entre 2 a 3.5 m/s, e base a 2200m (1200agl) em mais um
dia azul. Pensei que aqui teríamos
condições muito fortes devido a baixa umidade do ar e granes contrastes de
temperatura, mas está bem menos forte do que o esperado.
E o vinho amadurecendo nos toneis de madeira na vinícola Clos de Chacras
Novamente
não consegui sair com o primeiro pelotão, pois na abertura do início da prova
(start) não estava ainda na altura boa para sair. Mas aos poucos consegui ir chegando nas velas
da frente e a batalha aérea foi bem interessante. Voei grande parte do tempo com o Gin Carrera
amarelo do Fabio Potenza, mas ele resolveu voar no “andar de baixo”ou seja
baixo o tempo todo, e eu mais próximo da base.
Não foi um dia fácil, pois as transições entre uma térmica e outro além
de não serem marcados pelas nuvens inexistentes, também eram pouco marcadas
pelo terreno do semi árido Mendocino.
Uma fábrica e cimento no meio do nada disparou ótima térmica, depois
alguns morros rochosos também, além das térmicas disparadas no meio do nada, ou
seja estava difícil achar o gatilho das térmicas. Acho que tudo isso facilitou chegar mais
perto dos parapentes com mais performance que estavam a minha frente.
Apesar
do ótimo voo, próximo na chegada, com forte vento de frente, tomei uma decisão errada, que fez eu voar nas
montanhas próximas a decolagem com vento meio forte, fiquei a 200-300m do chão
e fui subindo apoiado nas formações rochosas, tentando voar a mistura de bolhas
de ar quente e o vento que ajudava a manter a sustentação. Um Icepeak6 pouso um pouco atrás de mim, e um
Delta2 azul conseguiu subir e atravessar para o outro lado da montanha e chegar
no goal. Eu insisti muito, consegui
subir a 500m da planície quase que escalanda as pedras. Mas não consegui “agarrar” uma boa térmica e
nem mesmo trabalhar tão bem o relevo como Delta2. Com isso
fui “caminhando” voando para o fundo do vale em forma de concha pulando
de um para outro morro rochoso. Abaixo estava apoiado num pequeno caminho
pedregulhoso que era o acesso a um pequeno sitio, provavelmente aproveitado do
leito seco de um pequeno rio, pois além de sinuoso tinha muitas pedras.
O
Fábio Potenza tomou a correta decisão de ir contra o vento, e quase pousou a
oeste das montanhas, mas conseguiu subir e chegou ao GOAL !!!!!!! Correta
decisão, e bem menos arriscada que a minha que me levou a conhecer a flora
Mendocina. Já o Kiko, pouso mais ao lado
da Estrada, facilitando um pouco o resgate.
Meu
pouso foi excelente, e de pé, pois tinha medo das pedras aí o trem de pouso
principal funcionou bem. Nunca pousei
num local de tão difícil acesso, e se tivesse pousado no meio dos arbustos
minha selete (cadeira de voo) teria ficado parecida com um porco espinho, tal a
agressividade das plantas plenamente adaptadas ao árido clima da região. No inverno faz muito frio, e no verão uma
altíssima insolação calor que pode
chegar a mais de 40 graus, junto com 250mm de chuvas por ano e um solo pobre de
material orgânico exigem uma forte adaptação das plantas.
Logo após o pouso ...
Levei
um bom tempo para desenroscar as linhas do parapente, já que todas as plantas
tem espinhos das pequenas Acácias (arbustos)
até as plantas rasteiras, então nem tirei a luva, para dobrar o
parapente. Apesar de ter o Delorme, comunicador via satélite que envia
mensagens de posição para celulares e internet, não foi de grande utilidade,
pois o pessoal do resgate não dava muito bola. Tudo é feito aqui via rádio,
numa confusão danada, que de alguma forma no final dá certo. Consegui contato telefônico e depois de rádio
também com o resgate.
Depois de mais de 1 hora a vela arrumada para ser dobrada
Fui o último a ser
resgatado, já que estava muito próximo do pouso, ao mesmo tempo num lugar bem
remoto. Andei os 2/3 km até a ruta 13,
nada mais que uma estrada vicinal de cascalho, onde a Land Rover Defender do
campeonato já me aguardava. A caminhada
até que foi tranquila pois já passava das 19:00 , e a temperatura já começara a
cair um pouco. Esse foi seguramente o
pouso em região mais inóspita que já fiz na vida, me fez conhecer mais de perto
a vegetação bem diferente deste semiárido.
Voei um bom tempo nesses morrotes, mas outros eram mais acidentados
Ahhh
também nos falaram do tal do vento Zonda (pronuncia Sonda), que aumenta a
temperatura bruscamente durante o dia, é bem caótico e forte como o vento Föehn
dos Alpes Europeus. Inicia como vento
frio e úmido no lado Chileno, mas deste lado dos Andes, ele é quente, seco e
turbulento. Conseguem acertar a bem a
previsão, mas não é algo que queira lidar a bordo de um “pano de chão” voador.
E este foi meu caminho de volta para civilização
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