Como todo bom campeonato não faz acordo com
São Pedro, no dia de treino a rampa ficou com tempo ruim, pela primeira vez
descemos de carro em vez de voar, muita gente decolou, mas tiveram que voar
alguns minutos nas nuvens, e não achamos prudente fazer isso. Um piloto da Venezuela contou que o voo dele
foi um show de horror, pois começou a subir no meio das nuvens, ficou
desorientado, molhou-se todo, disse que foi o pior voo da vida dele, também com
as “pequenas” montanhas ao redor eu também não me sentiria confortável.
Primeiro dia de prova
Foi cancelada a prova devido a um super
desenvolvimento de nuvens, indicando tempestado, no “big face” mas nós decolamos mesmo
assim. Acabei voando toda a prova, sem
maiores problemas, acredito que foi um pouco prematura a decisão do
cancelamento, mas o peso para organização aqui é grande, muito governo, muitos
militares, enfim querem que tudo de certo.
Segundo dia de prova
Neste dia conseguimos voar, muita
nebulosidade já na saída, foi um festival de pilotos entrando nas nuvens,
apesar de ser proibido. Depois viemos a
subir que o piloto vencedor da classe C foi reportado informalmente de ter
entrado várias vezes nas nuvens, como ele ganhou a prova ficaram no pé dele,
mas ninguém preenchou reclamação formal.
Eu consegui subir rapidamente após a demorada decolagem, e quando estava
próxima a base disforme, foi aberta a janela da largada. Vi um mundo de parapentes indo para a prova,
e não tinha muita idéia de quem eram os pilotos, resolvi esperar 1-2 minutos o
bandão principal sair, e depois segui também o caminho para o primeiro pilão
(ponto de virada). Um festival colorido no céu, todo seguindo uns
aos outros foi uma largada fácil. Notei
que muita gente girava térmica sem ter necessidade, ou mesmo subindo pouco,
afinal poucos gostam de voar próximo ao terreno das montanhas, mas com isso
perdiam muito tempo.
Evitando paradas fui devagarzinho passando
várias velas, partindo da idéia que estavam no campeonato, pois muitos pilotos
(acima de 50) voam aqui como “free flyers”.
Me mantive na parte alta da montanha, mas tomando o cuidado para não ser
sugado pelas nuvens, estava voando em terreno conhecido, pois chegamos aqui
quase 1 semana antes do evento, e voamos vários dias com um meteorologia
razoável. Um pouco turbulento sim,
derrepente escutei uma pilota das árvores pelo rádio, mas estava tudo bem. No caminho para o 3ro pilão, que ficava no
vale, adotei uma tática um pouco diferente, da maioria, e me dei bem, evitei de
fazer o zig zag e sim fui direto para o ponto e após o bloqueio, continuei na
rota, em vez de voltar para montanha. A
sorte foi que consegui pegar uma boa térmica no meio do vale, e depois já na encosta
da montanha outra muito boa. O piloto
que voava próximo começou a gritar pra mim de felicidade quando conseguimos
subir a 2,7m/s tendo adotado esta rota um pouco menos convencional, o resultado
foi que passei um monte de Icepeak3s que são velas bem mais avançadas que a
minha, mas no retorno do ultimo ponto o contravento foi difícil. Comecei a ser
ultrapassado por dezenas de velas, mesmo voando numa linha de sustentação um
pouco melhor foi difícil, parecia que estava remando contra a correnteza. Mas aos poucos fui evoluindo, e cheguei no
goal da prova, com 400m de reserva o que é muito. Tudo subia próximo ao pouso, tive que me
esforçar para evitar as bolhas e pousar direito. Para mim foi um ótimo resultado 5 lugar com o
Chili3 (En-B) entre cerca de 50 velas da classe sport, a maioria En-C.
Não dá para ler... mas o visual já mostra o que devemos comer !
Médico Ayuvedico que nos atendeu será que a receita dele funcionará ?
Prova 3
O dia começara bonito, mas rapidamente a
umidade começou a encobrir a montanha.
Após muitos debates, resolveram que nossa prova seria de tempo
individual, ou seja cada um poderia partir a qualquer hora para completar o
circuito. A rampa estava com nuvens, mas
dava para ver o solo, achei meio estranho deixarem tanta gente decolar com faca
nos dentes nessas condições. Todos
decolaram o mais rápido possível, e eu com minha super velocidade de ficar
pronto, demorei um pouco mais. Mas mesmo
assim tinha bastante gente em volta, com a base baixa foi decolar e
praticamente sair para a prova. Com o
aumento da instabilidade próximo ao Big Face, raios e trovões começaram e ser
reportados na frequência de segurança.
Muitos pilotos informando que era Nível 3, ou seja condições perigosas
para o voo, e a organização levou muito tempo para cancelar a prova.
Eu resolvi desviar da parte muito escura, e
fui para o vale, mas as térmicas estavam muito fracas, e aos poucos fui ficando
próximo do chão. Vi um arrozal enorme,
plantado em forma de prateleiras (como tudo aqui), e acertei bem o pouso, o
parapente ficou dois andares para cima e eu pousei de pé. Tem que acertar bem o pouso pois cada
“degrau” das plantações tem aproximadamente 0,50metro de altura para o próximo
degrau, tudo feito com muretas de pedra.
O resgate oficial junto com a criançada chegaram 1 min depois ao meu
lado, já estavam me observando voando baixo, pois eu tentei subir até o ultimo
instante nas pequenas bolhas de ar quente.
Ao meu lado alguns minutos depois pousou um americano de Seattle. O dia para mim foi bem turbulento, o piloto
Siberiano que estava no resgate me contou que havia levado uma fechada de
assimétrica de 60-70% entrou em giro e abriu poucos metros acima das árvores...
Tive uma boa surpresa, um dos garotos
falava um ótimo inglês, ele tem o privilégio de estudar numa escola cristã,
onde as aulas são dadas em inglês, filho de comerciante, deve ser de casta mais
alta, do que as outras crianças. A volta
do resgate foi numa pequena estrada cercada de árvores, região muito bonita.
No jantar tivemos os russos que ajudaram no
conserto da vela, e foi uma conversa bem bagunçada, pois falavam pouco
inglês. O russo é voador dos XAlps, e
contou algumas histórias interessantes, via tradução pois fala muito pouco
inglês. Sugeriu que ao invés de irmos a
Manali, talvez ficar mais próximo até um reservatório, uns 20km fora para trás,
pousar num platô a 4200m. A base tem que
estar bem alta, pois temos de voar com montanhas de 4000/5000m, e o sistema de
vento dos vales pode complicar bastante o voo, além de alguns vales não terem
estradas ou população. Além disso a
volta por terra é enrolada, de ônibus leva 10 horas para voltar a Bir, e em
linha reta são aproximadamente 50km, mas tem boa volta a dar pelas estradas
complicadas do interior da India.
Recepção no pouso na plantação de arroz
Relevo bem acidentado, pousei no lado esquerdo
Visual comum, mulheres carregando alimento para alimentar o gado leiteiro no inverno
Onde pousei ! Plantação de arroz em prateleiras, o terreno mais plano disponível
Acho que os pintores renascentistas se basearam nessa paisagem para pintar os quadros
E de volta no QG do campeonato a propaganda da cementeira local
Nenhum comentário:
Postar um comentário