segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Mendoza Parapente Dias 2 e 3

No segundo dia de prova, as condições de tempo não estavam favoráveis, então fomos visitar uma vinícola na mesma região onde eu havia pousado.  Após a breve visita, pois chegamos muito atrasados, passamos a degustação do ótimo vinho, de 3 qualidades diferentes.  Claro que todos ficaram no mínimo meio altos, mas o Malbec realmente desceu muito bem, até mais do que o Reserva especial que pareceu muito encorpado para mim.

Caixa d'água da Vínicola Clos de Chacras

Tanques de fermentação

No terceiro dia do campeonato, após muitas discussões resolveram inverter o sentido da prova, por causa do vento que em vez de soprar do Norte, insistia em vir do sul.  Nos mandaram para a parte mais árida da região.  Um pouco de turbulência na primeira térmica próximo a decolagem, mas depois as condições de voo foram normais, com térmicas entre 2 a 3.5 m/s, e base a 2200m (1200agl) em mais um dia azul.   Pensei que aqui teríamos condições muito fortes devido a baixa umidade do ar e granes contrastes de temperatura, mas está bem menos forte do que o esperado.

E o vinho amadurecendo nos toneis de madeira na vinícola Clos de Chacras

Novamente não consegui sair com o primeiro pelotão, pois na abertura do início da prova (start) não estava ainda na altura boa para sair.  Mas aos poucos consegui ir chegando nas velas da frente e a batalha aérea foi bem interessante.  Voei grande parte do tempo com o Gin Carrera amarelo do Fabio Potenza, mas ele resolveu voar no “andar de baixo”ou seja baixo o tempo todo, e eu mais próximo da base.  Não foi um dia fácil, pois as transições entre uma térmica e outro além de não serem marcados pelas nuvens inexistentes, também eram pouco marcadas pelo terreno do semi árido Mendocino.   Uma fábrica e cimento no meio do nada disparou ótima térmica, depois alguns morros rochosos também, além das térmicas disparadas no meio do nada, ou seja estava difícil achar o gatilho das térmicas.  Acho que tudo isso facilitou chegar mais perto dos parapentes com mais performance que estavam a minha frente.  

Voadores na degustação

Apesar do ótimo voo, próximo na chegada, com forte vento de frente, tomei uma decisão errada, que fez eu voar nas montanhas próximas a decolagem com vento meio forte, fiquei a 200-300m do chão e fui subindo apoiado nas formações rochosas, tentando voar a mistura de bolhas de ar quente e o vento que ajudava a manter a sustentação.  Um Icepeak6 pouso um pouco atrás de mim, e um Delta2 azul conseguiu subir e atravessar para o outro lado da montanha e chegar no goal.  Eu insisti muito, consegui subir a 500m da planície quase que escalanda as pedras.  Mas não consegui “agarrar” uma boa térmica e nem mesmo trabalhar tão bem o relevo como Delta2.  Com isso  fui “caminhando” voando para o fundo do vale em forma de concha pulando de um para outro morro rochoso.   Abaixo estava apoiado num pequeno caminho pedregulhoso que era o acesso a um pequeno sitio, provavelmente aproveitado do leito seco de um pequeno rio, pois além de sinuoso tinha muitas pedras.

Pilotos observando o vento 

O Fábio Potenza tomou a correta decisão de ir contra o vento, e quase pousou a oeste das montanhas, mas conseguiu subir e chegou ao GOAL !!!!!!! Correta decisão, e bem menos arriscada que a minha que me levou a conhecer a flora Mendocina.  Já o Kiko, pouso mais ao lado da Estrada, facilitando um pouco o resgate.

Meu pouso foi excelente, e de pé, pois tinha medo das pedras aí o trem de pouso principal funcionou bem.  Nunca pousei num local de tão difícil acesso, e se tivesse pousado no meio dos arbustos minha selete (cadeira de voo) teria ficado parecida com um porco espinho, tal a agressividade das plantas plenamente adaptadas ao árido clima da região.  No inverno faz muito frio, e no verão uma altíssima insolação  calor que pode chegar a mais de 40 graus, junto com 250mm de chuvas por ano e um solo pobre de material orgânico exigem uma forte adaptação das plantas. 

Logo após o pouso ...

Levei um bom tempo para desenroscar as linhas do parapente, já que todas as plantas tem espinhos das pequenas Acácias (arbustos)  até as plantas rasteiras, então nem tirei a luva, para dobrar o parapente. Apesar de ter o Delorme, comunicador via satélite que envia mensagens de posição para celulares e internet, não foi de grande utilidade, pois o pessoal do resgate não dava muito bola. Tudo é feito aqui via rádio, numa confusão danada, que de alguma forma no final dá certo.  Consegui contato telefônico e depois de rádio também com o resgate. 

Depois de mais de 1 hora a vela arrumada para ser dobrada

  Fui o último a ser resgatado, já que estava muito próximo do pouso, ao mesmo tempo num lugar bem remoto.  Andei os 2/3 km até a ruta 13, nada mais que uma estrada vicinal de cascalho, onde a Land Rover Defender do campeonato já me aguardava.  A caminhada até que foi tranquila pois já passava das 19:00 , e a temperatura já começara a cair um pouco.  Esse foi seguramente o pouso em região mais inóspita que já fiz na vida, me fez conhecer mais de perto a vegetação bem diferente deste semiárido.

Voei um bom tempo nesses morrotes, mas outros eram mais acidentados

Ahhh também nos falaram do tal do vento Zonda (pronuncia Sonda), que aumenta a temperatura bruscamente durante o dia, é bem caótico e forte como o vento Föehn dos Alpes Europeus.  Inicia como vento frio e úmido no lado Chileno, mas deste lado dos Andes, ele é quente, seco e turbulento.   Conseguem acertar a bem a previsão, mas não é algo que queira lidar a bordo de um “pano de chão” voador.

E este foi meu caminho de volta para civilização

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