quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Meu primeiro pouso “forçado” de parapente


Terceira prova do campeonato em Disentis (Suiça) fui orientado a decolar antes dos competidores, para "birutar" a prova.  Nos dias anteriores ajudei a agilizar as decolagens abrindo as velas.  Mas com a grande umidade subindo, e vento norte, existia um pouco de dúvida de como estaria o ar.  

A previsão é que seria um dia mais turbulento, pois com vento norte e as montanhas próximas a decolagem fica a sotavento portanto as térmicas da face Norte são mais mexidas (rotorizadas). Porém, devido ao aquecimento do vale na decolagem e nos níveis inferiores o vento sopra da direção Sul/Sudeste.  Lá fomos todos para ar, com bastante espera para largada da prova.  Com fiapos de nuvens disformes por todo lado não estava muito fácil para subir.  Garanti base das nuvens, apesar de ser relativa a posição em relação as montanhas, quanto mais alto vs. o terreno mais alta a base. Apesar de sentir o dia um pouco mexido, não me senti muito desconfortável.  Antes da largada vi alguns colapsos rapidamente corrigidos pelos pilotos.  

Infelizmente uns 30min antes da largada já havia um piloto estirado na alta montanha, num local de acesso ruim, no início ele não se mexia o que gerou alerta grande no rádio, no final enviaram um helicóptero para socorre-lo, e tivemos que nos afastar do local (ele não se acidentou gravemente) . Algum tempo depois, já após a largada da prova outro piloto, desta vez um amigo,  teve de ser resgatado da mesma forma.  Ele acabou arborizando na alta montanha, quando calculou mal o terreno após passar "de fininho" no topo de uma montanha, havia um pequeno plato logo após e ele não conseguiu passar, mas não se machucou.   O Juiz da prova estava tenso dizendo que se houvesse mais algum acidente iria cancelar a prova, nisso alguns pilotos declararam nível 3 (perigoso, cancelar a prova), mas outros declararam níveis de 1 ou 2 na segurança do voo.  E então ele resolveu deixar a prova acontecer.  Mal eu desconfiava que seria o próximo... 

Eu larguei em boa posição, e pisando um pouco no acelerador fui em direção ao primeiro pilão, estava bem na frente, porém aos poucos fui sendo despachado pelas velas com mais performance. Após virar o primeiro pilão já um pouco mais baixo, senti o ar bastante mexido.  Tive que atravessar uma garganta mais profunda numa boa descendente, mas na outra ponta outros parapentes já subiam, eu fui com fé e consegui subir também, mas não muito.  Segui em frente com 2300m de altitude e, sem afundar fui comendo distância, novamente um vale estreito a atravessar, e quando estava quase do outro lado muita descendente.  

Comecei a sentir algumas bolhas, e tentei engatar na ascendente, senti que havia fechado uma orelha, e tentei abri-la no freio, mas aí a outra também tinha fechado, e o parapente começou a pendular da esquerda para direita, estava olhando para a cima, para tentar parar este movimento, ou seja tentava ”bombar “com o freio para tirar a orelha de um lado, e acabei agravando o movimento.   Estava próximo do chão, apesar de estar a 2120m quando iniciaram os problemas, apenas a 75m do solo. Enquanto olhava para a vela com a certeza que iria deter o pendulo lateral, stumpfff acabei sentindo o chão.  Foi praticamente um pouso duro, fiquei muito confuso.  

Foi nesse barranco ao fundo onde fiquei... Nesta foto já havia caminhado até a parte mais plana

Eu acaba de entrar voando no chão !!!!!  Como estava ocupado com a vela não percebi o chão chegando.  Me levantei em seguida, e vi que estava tudo  em ordem, mesmo porque o impacto não tinha sido muito forte, lendo depois os dados do equipamento eletrônico (barograma) a ultima medida da taxa de descida foi de 4m/s, menor inclusive do que muitos paraquedas de reserva. Pilotos passando gritavam para mim e eu respondia que estava tudo bem.  Em seguida uma pessoa que estava caminhando também veio conferir se estava tudo bem.  Recolhi a vela e fui para uma área um pouco mais plana.  Saí do equipamento me mexendo bastante, para ver se tinha algo a mais. Senti um pouco de dor nas costas, mas nada muito agudo.  Fiquei muito feliz de não ter me machucado, pois a menos de 50m de onde havia pousada existem várias estruturas anti-avalanche, feitas com enorme barras de ferro. Nem mesmo atingi uma das pedras que estavam espalhadas no barranco de pequena inclinação. E ainda por cima havia uma trilha eu descer a pé a montanha, sinalizada com canos de metal pintados, só na Suiça mesmo. 

Ainda bem que não encostei nessas barreiras contra avalanche

Após descansar um pouco, comecei a caminhar e vi um local perfeito para decolar novamente. Estava a 2120m, e caminhar até a pequena Sedrun com 20kg nas costas seria muito mais doloroso.  Levei todo o equipamento para este outro canto, uns 200m de onde eu estava, e preparei a decolagem.  O vento soprava de frente, de forma perfeita, algumas vezes um pouco forte demais.  E numa das baixas eu decolei, com objetivo de ir planando até a cidadezinha em frente, para voltar de trem a Disentis. Voava a 20km/h ou até menos, subindo reto, aí não tive dúvidas, centrei direito a térmica, e fui até 3.000m.  Apesar do vento forte estava a apenas 7km do pouso oficial do campeonato, e para lá eu fui na estratosfera, sem perder muita altura, apesar do vento contra. Cheguei 1000m em cima do pouso oficial, aterrissei junto com o pelotão vencedor da prova do dia.   

Para lembrar do local por muito tempo !

Ainda não entendi direito o que aconteceu, mas conversando com alguns pilotos, e refletindo sobre o formato do terreno e a força do vento eu devo ter pego rotor de sotavento “lee side” que realmente me deixou com dificuldades de controlar a vela.  Alguns pilotos subiram bastante próximo de onde eu estava.  No dia seguinte voei novamente e percebi que com muita turbulência entrava neste movimento de pêndulo lateral, e conforme dica do amigo James, na hora que começou, eu imediatamente joguei o corpo para um lado da selete, e freei um pouco, com isso estancara o movimento.  

Nova rampa Thomas Milko Sortudo Alpes Suiços :-) Rampa melhor difícil de encontrar !

Foi meu primeiro pouso forçado de parapente, com o melhor resultado possível.  Também minha primeira decolagem de um local alpino, remoto, sem ser uma rampa.  Realmente tive muita sorte em todo este assunto.

Conversando com 2 pilotos que viram o ocorrido, um deles me falou que e parecia estar em full stall, o que eu não lembro de estar nesta situação.  E o outro me falou que a vela parecia ter fechado bastante, então realmente devo ter freiado demais e talvez estava numa situação de stall mesmo. Também verifiquei que a distância entre os mosquetões estava 10cm maior do que o recomendado pelo fabricante, talvez contribuindo um pouco para deixar o conjunto mais instável.  Lição aprendida: 
- sempre perceber a distância do solo mesmo enquanto entretido com a vela
- no caso do pêndulo lateral jogar o corpo para um lado e não me deixar escorregar para o outro
- checar com frequência a distância dos mosquetões
- SIV SIV SIV

Disentis PWC 2015 Biruta


Em principio eu não tinha planos para ir a PWC (etapa do Mundial) pois 90% dos parapentes são Open classe ccc, e não tem muita graça ficar para trás após 15 min de voo.  Mas como era muito perto, resolvi experimentar.  Fui aceito como Wind dummy “Biruta” oficial, com direito a camisetas, passe do teleférico e do trem tudo grátis !  Trem ? ! Claro pois o sistema na Suiça é auto resgate, o piloto que não chega no goal, tem que voltar de trem, não tem Vans ou automóveis buscando os pilotos.


A pequena Disentis apertada no meio do vale

O Cristiano Ricci (Vermelho) de Poços de Caldas veio do Brasil especialmente para voar este campeonato e o Martin Portmann (Suiço-Baiano) completaram a presença Brasileira no PWC.

A decolagem de parapente não funciona bem em período fora de campeonato, pois o teleférico de cadeira após a gondola só era ligado para nós subirmos, claro que Fiesch é muito mais fácil.  Por outro lado neste vale conseguem fazer provas onde temos que pular as montanhas no sentido perpendicular, e não apenas ficar no vale principal como foi o caso de Fiesch.  Com o nível mais altos dos pilotos de PWC fizeram provas mais longas e técnicas.   Tivemos alguns dias de vento Norte, o que complica um pouco mais o voo na região.


No pouso oficial - Disentis

Ajudava os competidores a decolar, e saia em seguida, consegui completar apenas 2 das 5 provas, pois tinha pouco tempo para subir e largar.   Na prova mais longa de 105km (+-), consegui completar, apesar de ter demorado bastante, pois sempre tínhamos que subir nas térmicas de sotavento (lee thermals), que são sempre mais turbulentas e eu tenho zero experiência nelas.  Ia em locais apenas porque outros pilotos já estavam lá, novamente não teria voado nessa região sozinho de jeito algum.  Atravessar os desfiladeiros mirando o topo da montanha  “col” vendo se vai dar ou não para passar, realmente é para os pilotos locais mesmo. Uma pena que não levei a camera, pois voamos em regiões de beleza fantástica, vales remotos e assim por diante.  Mas como tratava-se de um PWC, ótimos vídeos feitos pelo Belga Phillipe Broers: 

O penultimo ponto, a direita no gráfico, foi especialmente difícil, pois tivemos que atravessar vários vales de forma perpendicular, e sempre pegar as térmicas de sotavento (leeside thermals) arghhhhh !!!!

Indo para o Briefing ao lado da decolagem 

Pronto para birutar, no bonito tapete branco !

No último dia, decolei quando a janela da prova já estava aberta, e aí teria de voar sozinho, além disso estava já cansado da sequencia de mais de 10 dias voando em condições de muita turbulência e fortes ventos, estava cansado.  Resolvi ir para o pouso, nem tentei fazer a prova, que aliás foi a melhor do Vermelho que ficou em 20 lugar neste dia.  No pouso um vento muito forte, tive que me concentrar muito para não ter problemas próximo ao chão. Ainda bem que acabou, agora será uma semana inteira sem voos !!! Pois os últimos 2 dias já estavam cancelados, devido a meteorologia ruim. 



Realmente no dia seguinte amanheceu chovendo, e fomos ao delicioso Brunch no hotel Sax, onde provei uns 15 diferentes tipos de queijo, nhocttttttt !!!!!  No PWC vencido pelo já lendário Maurer, a maioria das 10 primeiras posições são de Suiços mesmo, ou seja conhecimento local é decisivo para esta região.  Claramente a proporção de estrangeiros voando foi bem menos vs. locais.  Tivemos vários reservas, até um que o piloto conseguiu aterrissar numa parte alta, pois não calculou bem a passagem da montanha, e no dia seguinte lançou o reserva após um Twist, acabou achando uns escaladores e passou a noite num abrigo de montanha com ótimo jantar e farto vinho !!!

Fiesch 180km

No ultimo dia do campeonato já haviam batido o record da rampa com um triângulo FAI de mais de 300 quilômetros.  Junto com o Martin que chegou apenas no meio do evento, decidimos voar no dia seguinte também.  Durante o jantar/churrasquinho, os pilotos locais me explicaram por onde poderia tentar fazer o voo, os cuidados a tomar e assim por diante.  E sem duvida foi o meu melhor voo, queria ter voado um triângulo de 200km, passando pelo mítico Matterhorn (montanha de Zermatt, ícone do país).  Mas devido a maior nebulosidade fiquei apenas no vale apelidado de Paraglider Highway, com muita gente voando nas partes mais próximas da decolagem, fui até o extremo W do vale, no Furka Pass, e depois fui para o Leste, passando Crans Montana, avistando já o Mont Blanc, deixando ao lado o aeroporto militar de Sion, e o civil também !  Avistei de longe o Lac Leman ou lago de Genebra, ou seja um visual incrível, para o meu voo de 180km, o mais longo desta viagem.

Voei 7horas com base alta, atingindo 3.800m várias vezes, um frio danado nas mãos apesar da luva de inverno.  Entrei em pedaços de montanha porque vi outros parapentes, jamais faria isso sozinho, enfim foi um voo super bacana mesmo.  E com isso fechei com chave de ouro a etapa Fiesch 2015.


O famoso Glaciar Aletsch na primeira térmica após a decolagem, um privilégio, compartilhando a térmica com uma asa delta 

Indo para o primeiro pilão, para W, voando em cima dos "Goms", dá para ver o formato de gomos de laranja mesmo, o detalhe é não ficar baixo, porque aí o vento ... 

Indo para o lado Leste, avistei o Joerg Ewald (Flytec) a bordo de seu Enzo2, que me ajudou a "entrar" um pouco mais dentro das montanhas 

Alto mas próximo das pedras, ao fundo o vale do Sion, com seu aeroporto comercial e TMA a ser evitada 

Já na volta peguei um trecho muito turubulento, com vento que quase me fez desistir, avistar este piloto com a vela Mentor 4 também voltando me deu um pouco de segurança para voar em parceria velada, e portanto continuar na volta para Fiesch 

Num vilarejo de esqui antes de contornar o morro na frente, ainda faltava uns kms para a chegada, e estava com um planeio muito apertado, apenas 100m de reserva, mas fui tocando em frente 

Passando a gondola de Fiesch, já com segurança para o planeio final 

Na aproximação para o pouso oficial com o trem passando embaixo !

Poderia ter ousado um pouco mais neste dia, pois havia mais 2h de voo, mas a falta de conhecimento detalhado da região fez eu executar um voo mais conservador, quem sabe numa próxima vez ! A roleta suiça da meteorologia nos brindou um dia fantástico, como poucos nos Alpes.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Swiss Open em Fiesch


No dia seguinte, junto com o Canadense Brett fomos para o teleférico subir para o primeiro voo. Estava com toda a teoria dos ventos locais na cabeça.  Conversando com um piloto local ele falara para mim que havia um leve Föehn de Sul, que dava para ver com as nuvens do outro lado do vale tentando atravessar as montanhas para o nosso lado.  Muita gente decolando, fui também, briguei um pouco na primeira térmica, mas consegui subir, e fui para os “goms” que são as montanhas no vale principal indo na direção W.  O detalhe que estava turbulento, achei que tinha algo errado com minha vela, mas realmente tive que corrigir a vela o tempo todo, e depois de 2h de voo, tentando voltar para o pouso oficial vi que minha velocidade estava abaixo de 15km/h, ou seja claro sinal de vento forte.  Já tinha inspecionado com o automóvel alguns pousos alternativos, e não tive duvida fui para o meio do vale e perdi altura em cima do pouso da igreja (Ritzingerfeld).   Após o pouso estava pensando que não teria muito prazer em voar na região, mas os próprios pilotos locais confirmaram que o dia estivera muito turbulento mesmo. 

 Na primeira noite em Fiesch fui neste indo Camping, dormi com o som do caudaloso rio de degelo

 Esse trailer achei demais, rebocado com um pequeno carro, tinha até TV de satélite instalada !

Vários pilotos pousaram lá, e em menos de 10 min de caminhada já estava na estação de trem, aguardando o mesmo para voltar a Fiesch, auto resgate perfeito sem depender de automóvel e/ou resgateiro.  Caminhando para o estacionamento do teleférico, onde havia deixado o motorhome, vi o Brett pousando em Fiesch, o parapente dele de alta performance, Boomerang 10, mexendo muito, ou seja o pouso estava bem difícil com o forte vento que já soprava no pouso oficial. 

A pequena geleira de Fiesch ao fundo

Como era o dia 1 de Agosto fui ver a festa típica Suiça, em Fiescher Tal, depois de tirara algumas fotos, vi que haviam 2 motorhomes estacionados, pus o meu lá também no meio dos automóveis, fechei tudo e fui dormir.  No dia seguinte, me falaram que era o camping oficial do campeonato, então já estava no lugar certo !!! Pagamos Sfr10.- por dia, em vez dos Sfr35/40 do Camping da cidade, que tinha mais estrutura, logicamente.  Mas neste foram muitos pilotos Suiços e estrangeiros, formamos a “comunidade” voadora, que sempre é mais interessante.  O banho era na escola ao lado, tudo perfeito.  Único detalhe que após tomar a conversa ia para o default alemão-suiço, meio difícil de entender para os únicos 3 pilotos estrangeiros daquela turma.  Claro que tinham pilotos de diversas outras nacionalidades, mas eles hospedaram-se nos hotéis do pequeno vilarejo.  

 Só na Suiça, no caminho para a decolagem, plástico para recolher os restos caninos ! hidrante, etc etc

Entrando na gondola com as "pequenas" mochilas voadoras

No primeiro dia de prova, domingo, estava tão tenso que um torcicolo constante me atrapalhou no voo todo que foi em condições fracas, e por isso bem tranquilas, ou seja o voo tinha sido o oposto do treino, ar calmo e térmicas fracas.   Todo sistema de notificação do campeonato era por SMS, informação as 08:00 de que horas seria o briefing, e informações de meteoro básicas.  Antes de decolar tinha que enviar um “Para Start” , e após o pouso “Para Stop” com isso o sistema deles já controlava automaticamente os pilotos, sem precisar assinar nada.  Quando os resultados saiam, vinha um SMS informando, achei bem bacana o sistema.

Antes da largada em cima da Aletsch Gletcher

Tivemos provas em diversas condições meteorológicas, tempo forte/fraco mas sempre voando em cima do incrível visual do Aletsch Gletcher, a geleira mais longa dos Alpes.  Um dos dias o tempo estava ruim, ninguém queria decolar, e faltando menos de 10 minutos para abertura da largada (start mesmo), começaram a decolar, e não é que a prova valeu, apesar de poucos pilotos terem completado.  Eu decolei achando que iria pousar logo depois, mas até que consegui voar por menos de 1h, o detalhe que não conseguia subir muito acima da rampa, e com isso ficava mais a mercê do vento de vale.  Os pilotos mais experientes locais conseguiram subir a 2700m e com isso voaram acima da linha de árvores, em melhores condições de voo.  Quando vi que o vento estava forte demais fui para o pouso um pouco depois da igreja, no vale principal, a prova da classe Sport valeu 200 pontos, apenas. 

Famoso pouso da Igreja, com vários competidores já pousados

Interessante salientar que com a finalidade de motivar mais as pilotas e os pilotos da classe Sport, a Liga Suiça resolveu que nos campeonatos sempre haverão 3 rankings, o geral para todos, Feminino e Sport, sempre valendo 1000 pontos (caso não exista desvalorização, claro).  Achei a idéia muito interessante pois valoriza mais os vencedores destas 2 categorias, que tem uma pontuação relativa maior vs. estar com os pontos no meio da Open, talvez algo que poderíamos pensar em implantar também. 

Largando (mal) para a prova

Foi o campeonato que fiquei com a pior colocação dentre todos que participei nesta temporada, porém foi o que mais aprendi.  Voei em regiões que jamais iria sozinho pois tem que entender bem os sistema de ventos/térmicas da região.  Visual incrível recompensando a dificuldade do voo.  Infelizmente alguns reservas, mas com resgate ultra veloz por helicóptero pela REGA, eficiente sistema de resgate Suiço para os acidentados no meio dos Alpes.

Cuidado com o teleférico ! Após o primeiro ponto indo para o Furka Pass, próximo a Fiesch


Lugano a Fiesch






Resolvi seguir viagem para Fiesch, mas fiquei parado no congestionamento do túnel St Gottardo por bastante tempo, meio que comum nesta época do ano.  Duas horas depois, em vez de entrar pelo túnel fui pelo Nufenen Pass que é o passo mais alto da Suiça com 2.478m do nível do mar.  Pela primeira após mais de 3 semanas de 38 graus todos os dias, tive um bom frio, 5 graus de temperatura após anoitecer.  Apreciei o magnífico por do sol com uma geleira ao fundo, e acabei dormindo por lá mesmo, já havi visto mais outros 2 motorhomes que também dormiram por lá.  De manhã o visual também ótimo, aproveitei para dar uma volta de bicicleta por perto, ainda vendo restos de neve do lado da estrada, apesar de estar no alto verão.  Um pouco mais tarde, ao redor das 9:30, vi ciclistas chegando, devem ter começado muito cedo !

 As duas "máquinas" alemãs, o dono da máquina esportiva não gostou muito que tirei a foto


Seguindo viagem, desci pela sinuosa estrada, e entrei na região de Oberwallis.  Chegando no vale dei de cara com um aeródromo desativado com enormes X marcados na pista.  Mas logo depois já avistei o “novo” aeroporto, utilizado principalmente por planadores, mas também vi hangares de jatos militares semi enterrados, e camuflados com bastante vegetação em toda parte superior algum resquício da guerra fria ?  E mais um pouco de pequena estrada até chegar em Fiesch. Eis que o Camping local está em pé de guerra com o voo livre, inclusive com briga na justiça, além de um preço ridiculamente alto, acabei indo para um Camping num vilarejo poucos quilômetros antes no vale, dormi ao som de um caudaloso e gelado rio, água gelada vindo dos glaciares. Mas antes havia visto a explicação dos 6 tipos de ventos diferentes, e naturalmente fiquei muito tenso, no local de Informação Turística ganhei até um “Wind map”, onde tudo é bem explicado, mas é tanta informação que me deixou tenso. 

No dia seguinte a geleira e as nuvens fizeram desta imagem algo ainda mais especial, visto do Nufenen Pass 

Chegando novamente no vale, depois de descer pela sinuosa estrada, o aeroporto com a pista fechada

Gemona - Lugano


Após o Nordic Open e Gemona, fui para Suiça pelo sul dos Alpes, paralelo a Autopista, para conseguir ver um pouco a região, mas no final cansei e entrei na autopista mesmo.  Resolvi dar uma olhada no Lago di Como, região muito bonita, mas passei um apuro danado na sinuosa estrada em volta do lago.  Depois de quase 1 hora dirigindo, perguntei para um motorista se tinha como escapar, e ele falou que não.  Acabei subindo para um outro vilarejo com estrada tão estreita quanto a primeira, não foi muito agradável não, mas o visual fantástico, claro.  Estava cansado e não achava o Camping indicado pelos Policiais.   Resolvi atravessar a fronteira e já no por do sol achei o Camping em Lugano, bem vindo a Suiça.  

Ainda em Gemona a reserva dos "Grifones" 

 E porque não mostrar o borboletário, afinal todos voam !



Cheio, mas muito cheio mesmo, peguei a última vaga, e só poderia ficar uma noite, pelas reservas da semana.  Wifi ótimo no camping todo, mas as 6 e pouco da manhã começou o barulho dos jatinhos usando o aeroporto local.  Andei de bicicleta pela cidade, o que foi uma delícia, muito respeito pela magrela, e acabei dormindo mais uma noite, desta vez num outro Camping próximo, bem mais barato que os quase Sfr50.- que paguei no primeiro. 

Fui voar no Monte Tamaro, subida em teleférico tipo “ovo”.  Na decolagem conversei com o instrutor local que me explicou todos os detalhes.  O tempo não estava muito bom, mas suficiente para um voo de 1 ou 2h, sem pretensões de longa distância, pois a tarde iria entrar vento forte no vale.  Decolei bem, com a selete mais leve, Lightness, mas infelizmente prendi errado o painel, e tive que ir direto para o pouso, sem poder aproveitar totalmente o voo.  Um vento danado já soprava lá embaixo, e poucos minutos depois todos os pilotos pousaram também, e ainda me deram um boa carona para o estacionamento do teleférico. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Gemona Del Friuli - Nordic Open


Após algumas semanas sem voar, estava pronto para o novo campeonato, de volta ao Norte da Itália, sim porque Gemona fica ao Norte de Veneza, uns 100km, próximo da fronteira dom Eslovenia e Áustria.  Local muito bom para o voo de parapente, com decolagem bem alta, vento relativamente constante do quadrante sul.  Possibilidade de voar em região plana e também em áreas montanhosas que já configura o início dos Alpes.  Voos para Eslovenia são possíveis, apenas importante mudar a língua do Italiano... para o Inglês, pois a língua local é meio difícil para nós brasileiros. 


A pequena Gemona de Friuli tem origem Pré Romana, desde o ano 611 já era citada nos livros, quando os Longobardos dominavam a região, mas prosperou mesmo nos 13/14 séculos, cobrava impostos das mercadorias que transitavam entre Itália e o Danúbio, depois foi dominada por Veneza e caiu em decadência, recentemente em 1976 foi destruída por um grande terremoto, mas já totalmente reconstruída.

Gemona del Friuli, centro histórico, um pouco antes do pouso

Mas voltando ao Nordic Open, é campeonato anual para os pilotos da Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e até mesmo para a pequena Islândia, que tem ao redor de 300.000 habitantes no país todo. Por regulamento eles oferecem 25% das vagas para estrangeiros, e eu consegui ser aceito porque fiz a inscrição meses atrás.  Por outro lado a organização aqui é terceirizada para o Brett Janaway e sua equipe que são ingleses.  É uma torre de babel linguística, mas todos falam bem inglês também, como é comum nestes países com educação de alto nível.  Grande parte dos pilotos está hospedado no Hotel Willy, que além de ser o QG também tem boas instalações de Camping, onde estou estacionado com o motorhome.   Único parte um pouco mais chata é a ferrovia ao lado, apesar de poucos trens a noite, quando passam incomodam.  

E todos gostam um pouquinho de voar... 

Briefing de segurança bem detalhado, feito em inglês, e não nas diversas línguas dos países Nórdicos, diferente do Campeonato na Macedônia onde havia tradução para o Húngaro o tempo todo.  Todos nós recebemos pulseira e uma carteira especial com todas informações de segurança, telefones, como é de praxe em campeonatos.  

As Provas
Prova #1 foi feita em cima da região plana, pois existia risco de super-desenvolvimento das nuvens nas montanhas, o que realmente acabou acontecendo em alguns locais mais distantes, sem afetar o campeonato em si.  Prova bem tática, larguei muito bem, voando por algum tempo no pelotão líder, mas sendo deixado para trás pelas velas de maior performance (Enzo2 + Boomerang 10).  Fizeram um prova meio curta, onde os vencedores fizeram em menos de 1h30, eu tive um pouco de sorte e terminei em #1 na prova, na categoria Sport.  Cometi um erro grande, numa montanha baixa que não consegui passar, e tive que andar um pouco para trás com medo do vento rotorizado a sotavento da montanha.  Muito interessante que aqui achamos ótimas térmicas em cima da calha bem larga de um rio que flui apenas no meio.

E com o calorão fomos para a "praia" no rio proximo, água geladíssima, apenas um problema para o único brasileiro, pois eles estão acostumados com frio.

Prova #2 foi bem diferente, infelizmente acabei largando muito mal, voamos para cima das montanhas, o que foi muito bonito, mas minha largada mais baixa significou que não consegui voar com o pelotão líder, aproveitando do conhecimento dos pilotos de ponta.  Mas fui no meio caminho, avançando posições rapidamente.  O visual fantástico das montanhas foi o destaque do dia, já que na planície o dia estava bem mais fraco.  Tive meio primeiro colapso grande desta vela, quando olhei para cima, parecia um grande pano amassado, mas a vela se comportou bem e rapidamente voltou a posição de voo sem muita interferência minha, e como foi simétrico, continue voando em frente.  Melhorando várias posições, fui impaciente, e deixei o grupo que estava voando para trás, e sozinho no azul na planície, tive um pouco mais de dificuldade, pois não conseguia alcançar o grupo da frente.  Não tive uma boa colocação, #49, mas fiz o goal que foi o mais importante.  Fui convidado para um ótimo jantar feito pela esposa do Andreas, em comemoração ao “meio do verão” , como é costume na Suécia, com direito a comida deliciosa, boas histórias, e iguarias Nórdicas.  Também veio um casal de origem Sueca mas que moram em Brisbane (Austrália) e o piloto é um dos “top” do pedaço.


O que está escrito na caneca ???? 

Prova #3 um dia estranho, com vento Leste, que não é comum na região.  Atrasaram a entrega da prova por um bom tempo, modificaram, pois ao invés de 1h para abertura da faixa, aumentaram para 1h30 pela dificuldade da decolagem.  Decolei cedo, e senti o ar bem turbulento, tinha que fazer as correções da vela com mais energia que o normal, ou seja estava levando pancadas mesmo.   Vi um reserva do tipo dirigível, Beamer, igual o meu, piloto lançou bem alto, mas não conseguiu pilotar o reserva, aliás estava subindo com ele mais do que eu, estava numa forte térmica.  Ele acabou aterrissando numa encosta alta da montanha, pois como não conseguiu pilotar o reserva (não entendi bem porque), não teve controle, saiu totalmente ileso.  Pouco tempo depois um outro incidente, desta vez mais sério, o que causou a interrupção da prova para chegada do helicóptero de resgate, impedindo a decolagem dos demais competidores.  Dia muito bom, forte e turbulento nas montanhas, que me deixaram meio desconfortável.   Terminamos indo de bicleta para o rio ao lado de Gemona para um refrescante banho nas suas águas geladas, o povo da Suécia/Noruega/Finlândia nem achava a água muito frio, mas eu vindo de “terras tropicalis” senti me diferente, mas o calor era tanto que a água gelada estava deliciosa.   A noite jantar oferecido pela organização, que foi ótimo para confraternização, aprendi bastante sobre os problemas da Grécia já que sentei na mesa do Grego que é o responsável pelo Live Track.

 E o visual das montanhas é fantástico

 Chegou no goal e conseguiu acertar as poucas árvores do pedaço, comigo quase... 

Prova #4 finalmente consegui pegar uma Van que foi direto para o topo da montanha, sim porque a estrada apesar de ser asfaltada em 90% do percurso, tem curvas muito fechadas e veículos muito grandes não conseguem subir.  Então apenas 60% das Vans vão até a decolagem, os que sobem nas outras tinham que esperar no meio do caminho para serem buscados.  Dia com vento mais fraco, Sul/SE, marcaram uma prova na região plana pois havia previsão de formação de Cumulus Nimbus nas montanhas, que realmente acabou ocorrendo no final da tarde.  Me posicionei melhor na largada, porém com medo de “varar” o teto máximo de 2.700m, saí um pouco mais baixo que muitos pilotos, mas o caminho até o primeiro ponto de virada nas montanhas, consegui voar bem, ficando sempre alto.  E assim foi o voo todo, na volta desviamos bastante para ficar em cima das montanhas, que estavam bem menos turbulentas que no dia anterior.  

No descampado a nossa rampa de decolagem, nada mais que um gramado gigante, bem inclinado 

Voando na área plana, sempre a parte mais difícil do voo, alguns dias funcionava bem outros...

Mesmo assim houve um reserva, do mesmo piloto que havia lançado no dia anterior, claramente ele não deveria voar 2 linhas, parece que já pos a venda seu Enzo2 ... Voei muito com as inúmeras velas Mantra 6 , EN-D da Ozone, e o dia rendeu bem.  No planeio final um grande susto, pois tinha saído com 600m de reserva e as fortes descendentes me jogaram para menos de 100m, que depois recuperei no caminho escolhendo bom caminho, alguns pilotos ficaram próximo ao goal, justamente por terem ido “justo demais”.   Acho que terminei em #1 na Sport, #25 na geral. 

Não dá para cansar desta paisagem... 

E finalmente a prova de sexta feira foi cancelado devido ao grande incêndio nas montanhas, apesar de não vermos nada, dois aviões tanque abasteciam de água no Mar Adriático, e voltavam para jogar água, passando ao nosso lado.  Com o NOTAM temporário só conseguimos uma janela das 13 as 15:00, então não deu para marcar prova, decolamos para voo local, e pouso em seguida.  Não custava eles desviarem um pouco, mas as negociações não deram certo, e só pudemos voar na hora do almoço dos pilotos...

 (foto retirada de um artigo de jornal)

Curiosidades: 
Piloto Finlandês jogou reserva dois dias seguidos, voa um Enzo2, e hoje sentou do meu lado na van subindo para a rampa, e falou que como tem um pouco de cérebro, não iria voar hoje, pois estava com muito pouca sorte, eu acho que foi o contrário, pois tendo jogado reserva (dirigível) em 2 dias consecutivos sem ter tido sequer um arranhão é muita sorte mesmo.  Claro que a vela é muito forte para ele... 

Espaço Aéreo: 
Além do ninho de pássaros, que devíamos evitar num raio de 500m sob pena de zerar o dia, tinha também a área de treinamento de Drones da Força Aérea.   Apenas no primeiro dia tivemos limitação de 2400m acima do nível do mar, depois aumentada para 2.700m, pois a 3.300m tinha treinamento de caças americanos.

Áreas proibidas durante o campeonato

Diversos
Uso de rastreadores da Flymaster (xTc) facilitaram muito o evento, não havia fila para retirada do aparelho ou entrega do voo, bastava deixar em cima da mesa, que a organização fazia o download do voo, evitando aquelas filas super chatas após o voo. No dia do vento Leste, o prazo para decolagem foi extendido por mais 30min, ou seja para 1h:30, no final a prova foi cancelada.
Muitas velas da Ozone, 16 Mantras 6, e 16 Enzos... 
No penúltimo dia mudaram minha nacionalidade de Alemão para Brasileiro, antes tarde do que nunca. 


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Macedonia => Itália


E após o campeonato Pré Europeu / Hungaro, foi hora de ir para Itália.  No começo da viagem levei o Indiano Gurpreet até uma pequena cidade Grega, de onde ele iria pegar um onibus para Thessalonik, eu segui viagem.  Acabei indo pela Grécia mesmo, pois o Ferry Boat permitia Camping On Board, que é dormir dentro do motorhome, diferente do transporte via Albânia, mais próximo, que não permitiam essa modalidade de viagem.

Peguei a famosa autopista Leste / Oeste, bem vazia por ser domingo, e pela crise que assola o país

 Vila encrustada na montanha

 Parei para comer algo, tive que apontar o que queria pois o cardápio estava complicado

Como cheguei cedo em Igoumenitsa fui até a praia matar o tempo, muito bacana 

Com um por do sol ótimo, enquanto cozinhava o jantar 

Já no Ferry Boat 

 E 10 horas depois o desembarque na Itália


E o paraíso no primeiro supermercado em Bari, depois de 2 1/2 semanas na pequena Kruschevo, a fartura de frios chamou atenção mesmo