quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Meu primeiro pouso “forçado” de parapente


Terceira prova do campeonato em Disentis (Suiça) fui orientado a decolar antes dos competidores, para "birutar" a prova.  Nos dias anteriores ajudei a agilizar as decolagens abrindo as velas.  Mas com a grande umidade subindo, e vento norte, existia um pouco de dúvida de como estaria o ar.  

A previsão é que seria um dia mais turbulento, pois com vento norte e as montanhas próximas a decolagem fica a sotavento portanto as térmicas da face Norte são mais mexidas (rotorizadas). Porém, devido ao aquecimento do vale na decolagem e nos níveis inferiores o vento sopra da direção Sul/Sudeste.  Lá fomos todos para ar, com bastante espera para largada da prova.  Com fiapos de nuvens disformes por todo lado não estava muito fácil para subir.  Garanti base das nuvens, apesar de ser relativa a posição em relação as montanhas, quanto mais alto vs. o terreno mais alta a base. Apesar de sentir o dia um pouco mexido, não me senti muito desconfortável.  Antes da largada vi alguns colapsos rapidamente corrigidos pelos pilotos.  

Infelizmente uns 30min antes da largada já havia um piloto estirado na alta montanha, num local de acesso ruim, no início ele não se mexia o que gerou alerta grande no rádio, no final enviaram um helicóptero para socorre-lo, e tivemos que nos afastar do local (ele não se acidentou gravemente) . Algum tempo depois, já após a largada da prova outro piloto, desta vez um amigo,  teve de ser resgatado da mesma forma.  Ele acabou arborizando na alta montanha, quando calculou mal o terreno após passar "de fininho" no topo de uma montanha, havia um pequeno plato logo após e ele não conseguiu passar, mas não se machucou.   O Juiz da prova estava tenso dizendo que se houvesse mais algum acidente iria cancelar a prova, nisso alguns pilotos declararam nível 3 (perigoso, cancelar a prova), mas outros declararam níveis de 1 ou 2 na segurança do voo.  E então ele resolveu deixar a prova acontecer.  Mal eu desconfiava que seria o próximo... 

Eu larguei em boa posição, e pisando um pouco no acelerador fui em direção ao primeiro pilão, estava bem na frente, porém aos poucos fui sendo despachado pelas velas com mais performance. Após virar o primeiro pilão já um pouco mais baixo, senti o ar bastante mexido.  Tive que atravessar uma garganta mais profunda numa boa descendente, mas na outra ponta outros parapentes já subiam, eu fui com fé e consegui subir também, mas não muito.  Segui em frente com 2300m de altitude e, sem afundar fui comendo distância, novamente um vale estreito a atravessar, e quando estava quase do outro lado muita descendente.  

Comecei a sentir algumas bolhas, e tentei engatar na ascendente, senti que havia fechado uma orelha, e tentei abri-la no freio, mas aí a outra também tinha fechado, e o parapente começou a pendular da esquerda para direita, estava olhando para a cima, para tentar parar este movimento, ou seja tentava ”bombar “com o freio para tirar a orelha de um lado, e acabei agravando o movimento.   Estava próximo do chão, apesar de estar a 2120m quando iniciaram os problemas, apenas a 75m do solo. Enquanto olhava para a vela com a certeza que iria deter o pendulo lateral, stumpfff acabei sentindo o chão.  Foi praticamente um pouso duro, fiquei muito confuso.  

Foi nesse barranco ao fundo onde fiquei... Nesta foto já havia caminhado até a parte mais plana

Eu acaba de entrar voando no chão !!!!!  Como estava ocupado com a vela não percebi o chão chegando.  Me levantei em seguida, e vi que estava tudo  em ordem, mesmo porque o impacto não tinha sido muito forte, lendo depois os dados do equipamento eletrônico (barograma) a ultima medida da taxa de descida foi de 4m/s, menor inclusive do que muitos paraquedas de reserva. Pilotos passando gritavam para mim e eu respondia que estava tudo bem.  Em seguida uma pessoa que estava caminhando também veio conferir se estava tudo bem.  Recolhi a vela e fui para uma área um pouco mais plana.  Saí do equipamento me mexendo bastante, para ver se tinha algo a mais. Senti um pouco de dor nas costas, mas nada muito agudo.  Fiquei muito feliz de não ter me machucado, pois a menos de 50m de onde havia pousada existem várias estruturas anti-avalanche, feitas com enorme barras de ferro. Nem mesmo atingi uma das pedras que estavam espalhadas no barranco de pequena inclinação. E ainda por cima havia uma trilha eu descer a pé a montanha, sinalizada com canos de metal pintados, só na Suiça mesmo. 

Ainda bem que não encostei nessas barreiras contra avalanche

Após descansar um pouco, comecei a caminhar e vi um local perfeito para decolar novamente. Estava a 2120m, e caminhar até a pequena Sedrun com 20kg nas costas seria muito mais doloroso.  Levei todo o equipamento para este outro canto, uns 200m de onde eu estava, e preparei a decolagem.  O vento soprava de frente, de forma perfeita, algumas vezes um pouco forte demais.  E numa das baixas eu decolei, com objetivo de ir planando até a cidadezinha em frente, para voltar de trem a Disentis. Voava a 20km/h ou até menos, subindo reto, aí não tive dúvidas, centrei direito a térmica, e fui até 3.000m.  Apesar do vento forte estava a apenas 7km do pouso oficial do campeonato, e para lá eu fui na estratosfera, sem perder muita altura, apesar do vento contra. Cheguei 1000m em cima do pouso oficial, aterrissei junto com o pelotão vencedor da prova do dia.   

Para lembrar do local por muito tempo !

Ainda não entendi direito o que aconteceu, mas conversando com alguns pilotos, e refletindo sobre o formato do terreno e a força do vento eu devo ter pego rotor de sotavento “lee side” que realmente me deixou com dificuldades de controlar a vela.  Alguns pilotos subiram bastante próximo de onde eu estava.  No dia seguinte voei novamente e percebi que com muita turbulência entrava neste movimento de pêndulo lateral, e conforme dica do amigo James, na hora que começou, eu imediatamente joguei o corpo para um lado da selete, e freei um pouco, com isso estancara o movimento.  

Nova rampa Thomas Milko Sortudo Alpes Suiços :-) Rampa melhor difícil de encontrar !

Foi meu primeiro pouso forçado de parapente, com o melhor resultado possível.  Também minha primeira decolagem de um local alpino, remoto, sem ser uma rampa.  Realmente tive muita sorte em todo este assunto.

Conversando com 2 pilotos que viram o ocorrido, um deles me falou que e parecia estar em full stall, o que eu não lembro de estar nesta situação.  E o outro me falou que a vela parecia ter fechado bastante, então realmente devo ter freiado demais e talvez estava numa situação de stall mesmo. Também verifiquei que a distância entre os mosquetões estava 10cm maior do que o recomendado pelo fabricante, talvez contribuindo um pouco para deixar o conjunto mais instável.  Lição aprendida: 
- sempre perceber a distância do solo mesmo enquanto entretido com a vela
- no caso do pêndulo lateral jogar o corpo para um lado e não me deixar escorregar para o outro
- checar com frequência a distância dos mosquetões
- SIV SIV SIV

Um comentário:

Anônimo disse...

se cuida.