quarta-feira, 28 de julho de 2010

Resgate na Sérvia Lição Aprendida

Todos em casa as 3h da manhã, escutei o Bassi entrando no quarto... E de manhã veio o extenso depoimento este que foi o resgate mais complicado da carreira volovelista dele, e olha que são mais de 30a nas costas apenas de vôo a vela !!!  

Desde a nuvem de mosquitos que atacou o Egon no por do sol, até os caracteres cirilicos da língua sérvia, impossível de entender algo.  Vale salientar que um certo despreparo nosso acabou atrasando um pouco mais o resgate.   Por outro lado as equipes do Nimbus4DM da Russia e do Nimbus 4 da Lituânia também tiveram dificuldades em cruzar a fronteira.  As 3 equipes foram liberadas juntas, na ida e na volta depois de 2 horas na fronteira, em cada sentido... Os Sérvios falam Russo, o que ajudou as outras duas equipes, um pouco mais que a nossa.

Acho que ficou o aprendizado para os pequenos detalhes que agilizam o resgate, muito importante, a sorte foi que no dia seguinte não houve voo, senão ...

Abaixo o ótimo texto do Moure, equipe do Blois que foi ajudar no resgate.


Ontem as provas das classes 15 e 18 metros foram canceladas e somente a classe aberta continuou voando. O tempo era marginal, sendo otimista, e o Egon acabou pousando fora, uns 60 km dentro do território sérvio. Montamos uma equipe de resgate, o Claudio Abreu, o Bassi e eu. O ASW-22 é um planador grande e relativamente pesado, e vimos pela foto do satélite que o pouso foi em um arado perto de uma estrada. Moleza. Ou nem tanto… Eu aposto que o pessoal da Sérvia retoca as fotos do satélite…
A confusão começou quando ao chegarmos na fronteira sérvia descobrimos que o Claudio estava sem os documentos do carro, da carreta, do planador e que o Egon não tinha visto para a Sérvia… Capitão, isso vai dar m*rda… :p A decisão correta teria sido retornar e pegar os documentos. Szeged fica a apenas uns 10 km da fronteira. Mas somos brasileiros e não desistimos nunca…
Uma das coisas que mais odeio em fronteiras é que a primeira ação dos oficiais é pegar o seu passaporte e sumir com ele. Dai estacionamos junto  ao carro do time da Lituânia, cujo piloto também havia pousado na Sérvia. Poucos minutos depois chegou a equipe de resgate da Rússia. Verificamos que o piloto lituano havia pousado a uns 500 metros  do Egon e combinamos de ir junto.
Conversa vai, conversa vem, organização do campeonato acionou a polícia de fronteira húngara, que conversa com a polícia de fronteira sérvia… deixaram a gente entrar para ao menos resgatar o piloto. Mas com o compromisso de voltar pelo mesmo posto de fronteira e ter com o oficial do dia.  O Bassi aproveitou para pagar 300 Forints (uns 2,5 reais) pelo privilégio de usar o banheiro do posto de fronteira.
Já quase escurecendo tomamos o rumo do ponto onde o Egon havia pousado. Um outro problema aparece: tá tudo em obras. Olhando pelo mapa desceríamos pela rodovia 75, sul, e pegaríamos uma vicinal à esquerda, andaríamos 4 km e chegaríamos no Egon vindos do oeste. Mas as as vicinais somente cruzam as rodovias, sem acesso algum. Os caras tiveram a capacidade de fazer as pontes mas não colocaram as alças… Então a solução foi prosseguir até Feketic, pegar um retorno até Backa Topola e então acessar a rodovia 108, que cruza a 75, levando-nos até Milesevo e então Drljan (sim, só uma vogal…), onde estaríamos aos mesmos 4 km do Egon, mas do lado leste. Parece fácil? Vai fazer isso no escuro, com toda a cidade dormindo e as únicas pessoas na rua não falam outra língua que não a natal.
Passamos Milesevo e prosseguimos para Drljan, onde encontramos o piloto lituano na beira do asfalto. Ele então nos conduziu por um labirinto de estradas de terra (lama, pois havia chovido muito) onde finalmente encontramos o Egon. Combinamos de cada equipe recuperar o planador e voltarmos juntos para a fronteira. A volta seria mais fácil, pois era só seguir o caminho inverso da rota gravada no GPS. Conta rápida: saímos de Szeged umas 5 da tarde. Chegamos no Egon era pouco antes das 10 da noite.
Desmontamos o 22 e colocamos na carreta. Já fazia um pouquinho de frio. Levamos 1:15 h para o serviço. Nos reunimos com os lituanos, combinamos a rota de regresso e tocamos em direção à fronteira. Como nem tudo é desgraça, nenhum carro encalhou nas estradinhas de terra.
Chegando na fronteira, a coisa azedou. A polícia de fronteira exigiu todos os documentos e disse que sem eles não seria possível sair do país (óbvio que a essa altura alguém já tinha recolhido nossos passaportes…). Perguntamos se seria possível deixar a carreta, ir para a Hungria, pegar a papelada e voltar para pegar a carreta. O oficial resmungou alguma coisa em sérvio que me pareceu ser um “você tá de sacanagem?”.
Repassei então, mentalmente, a situação: na europa central, de madrugada, com os passportes retidos, sem moeda local, com um carro e um planador sem documentos, um piloto sem visto… É, vamos ter que pedir ajuda.
Ligamos para o Blois, aliás, acordamos o Blois, que saiu do hotel, foi até o bunker no aeroclube, pegou os documentos, atravessou a fronteira e entregou a papelada para as autoridades sérvias. Mais uma hora e meia sentados dentro do carro, conversa vai, conversa vem, fomos escoltados até o ponto de controle húngaro. Mais uma meia hora de conversa vai, conversa vem, de repente o pessoal da sérvia sai de um prédio com cara de poucos amigos, entra no carro deles e vai embora. Mais meia hora de conversa vai, conversa vem, fomos liberados pelo controle húngaro para entrar no país. Chegamos em Szeged eram mais de 3 da madrugada. Salvo engano foi a primeira vez que um piloto resgatou a equipe. :)
Os lituanos e russos foram liberados juntos (outras equipes trouxeram a papelada deles) e até agora não sei se o fato de estarmos os 3 times juntos ajudou ou atrapalhou a coisa toda, na fronteira. O certo é que sem a ajuda do time da lituânia jamais teríamos conseguido encontrar o Egon, durante a noite. E no dia seguinte já seria celular sem bateria, crédito acabando, organização do campeonato acionando o SAR, polícia sérvia procurando todo mundo…
A verdade é que, em geral, resgate não é um passeio no parque. E resgatar para além de qualquer fronteira é muito mais complicado e exige um planejamento adequado. Sem falar na imperiosa necessidade, óbvia, de ter os documentos em dia.
Sem fotos do resgate pois estava realmente ocupado.
Alessandro MOURE

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