quarta-feira, 16 de julho de 2014

Chelan 204km voados !!!!

Prova dos 200km

John Cosh, um dos bons voadores dos EUA já havia dito que iriam tentar uma prova bem longa, para aproveitar as boas condições meteorológicas, de dias longos e térmicas boas.  Comecei a desconfiar quando no FB oficial do campeonato apareceu a nota que deveríamos nos apresentar ao QG (HQ) 30 minutos antes do que nos outros dias.   Para mim o dia parecia como outro qualquer, ceu azul, vento fraco, XCSkies indicando bom potencial de voo, nada diferente do dia anterior, aliás um vento um pouco mais fraco e fumaça no horizonte devido as queimadas.

O dia não estava ideal, muita fumaça no ar desde cedo

No Briefing percebi que seria um dia bem desafiante, estava escrito “nominal distance 204km” na placa branca.  Eu dei risada, e pensei, essa é a prova que não querem que o pessoal da SPORT consiga completar, e eu então voando um vela B... Foi o briefing normal, pessoal bem agitado com a possibilidade dos 200km, mas vários pilotos incrédulos, pois o vento estava mais fraco no dia anterior a impressão era que a janela de oportunidade havia passado.   A janela de decolagem abriu as 11:05, eu consegui decolar as 11:11, pois se era para tentar chegar, tinha que estar bem posicionado na largada para andar mais na frente.   Vale salientar que apesar de ser um dos primeiros 20/30 a decolar, fritei de calor na longas fila vestido como um esquimó, ou seja camiseta+camisa manga comprida+casaco de pluma+lycra+2 luvas por mão, mas isso já era padrão de todos os dias.  A dica que o Washington me deu antes de eu sair do Brasil “é frio leva roupa” foi perfeita, pois como a base é alta, tudo esfria muito durante o voo.

Essa foi a história prova

No início do voo tinha um monte de parapente ao meu redor, facilitando um pouco a detecção das melhores térmicas e principalmente dos caminhos que afundavam menos.  Fiquei observando a média de velocidade a cada hora para ver se tinha alguma chance de chegar no goal, mas depois da terceira ou quarta hora de voo, parei de fazer isso.  Resolvi concentrar minhas forças em voar um pouco mais rápido, e não demorar nas térmicas fracas e ao mesmo tempo não ficar baixo.  A paisagem era fantástica, passando enormes represas intercaladas com plantações de trigo e também algumas regiões onde pareciam as crateras da lua.  Sem chance de pousar longe das poucas rodovias existentes, seria uma caminhada de muitas horas sem acesso de automóvel.  E lá, diferente do Brasil, não existe população vivendo fora das pequenas vilas rurais, toda agricultura é extensiva e totalmente mecanizada.  

Um pouco de fumaça no meio do voo  (@by Alex Miranda)

Grande parte do voo foi entre 2.000 e 3.000m do nível do mar, ao redor de 2400m acima do terreno que na região tinha uma variaçãoo de 300/400m dependendo do local.   Após 4 horas de voo vi que teria alguma chance de chegar, entretanto após quase 140km voados, já não via quase parapente algum, ou seja as velas EnD/Open estavam bem a minha frente, alguns perdidos estavam por perto, mas poucos.  Proximo ao penúltimo lago, Sprague Lake, comecei a ficar preocupado, pois as térmicas haviam enfraquecido, e eu estava a 1800m, na frente solo lunar para ser atravessado.  Mas encontrei algo que me levou de volta a 2600m, e vi uma linha na frente que parecia uma rodovia.  Fui para o meu do “Marlboro” , junto com uma vela Enzo que estava sempre mais baixa que eu e um Gin Carrera que via de longe, não encontrava nada... Na suposta rodovia, vi um trem enorme passando, e pensei, bom pelo menos tenho a linha férrea para caminhar... Havia virado um jogo de paciência, estava cerca de 30km fora, com poucas térmicas, fui até 1300m do mar, já pensnado que apenas queria chegar numa rodovia.  Mas com uma térmica fraca consegui salvar o voo, fui a 2800m, mas não era suficiente para chegar, agora faltavam apenas 9km e eu estava de volta a 1300m (700m do solo), ahh que saudades dos antigos planadores, seria moleza cruzar esta distância.  Achei uma térmica, a direita da estrada, e subi a ultima térmica do dia  a 2000m (1400m agl) comecei o planeio final, o Gin Carrera estava um pouco mais adiante a minha esquerda, saiu para o planeio final bem mais baixo, eu coloquei uma boa reserva, cheguei no final com 300m acima do pouso.   

Já próximo do pouso uma linda paisagem (@foto de Nick Greece)

O rádio gritava de tempos em tempos “atenção pilotos postes e fios elétricos a volta do pouso” e pensei como escolhem um pouso oficial assim ??? “O pouso no campo ao lado ou mesmo no campo de golfe está autorizado”, por isso até peguei esta altura adicional.  Cheguei folgadamente no goal, um campo de futebol americano, observei o Gin pousando e o Enzo, e vi que a melhor aproximação era do Oeste mesmo, entre 2 postes de luz do campo. 

Fiz a aproximação entre os 2 postes de luz no campo de Futebol de St John (WA)

Chegaram 36 velas no goal, sendo que eu fui o 28, fiquei super feliz com o fato de ter cruzado a barreira dos 200km com 6h46” de voo, acho que foi meu dia mesmo, pois além desses ótimas resultados fiquei em primeiro na classe Sport, bem da verdade que o Gin Carrera passou o círculo do goal um pouco a minha frente, mas como a chegada era ESS (Cônica) e eu estava bem mais alto, levei uns pontinhos a mais.  Este é o link do voo: http://xcbrasil.com.br/flight/104206

Feliz após a chegada, e um pouco casando depois de quase 7h de voo

Sim estava em St John, fui levado com um carrinho de golfe para bater a foto


Foi a maior prova já marcada nos EUA, e talvez do mundo ! Não foi um dia especialmente veloz, pois o vento não estava forte, simplesmente deu certo. 

Comemorando !!!! em frente a escola municipal

A volta foi um capítulo a parte, pois não haviam vans suficientes, no final o pessoal da cidade emprestou um “ônibus” escolar antigo de apenas 10 lugares, eu voltei as quase 4h deitado/sentado no chão, parada técnica num Burger King, e ao redor das 2 da manhã estava na cama.  Foi um dia e tanto !

Este antigo onibus escolar foi cedido pelo pessoal da cidade, pilotado pelo Rob Sporrer (Eagle Paragliding) que além de arrumar emprestado, ainda dirigiu a viagem toda !


Os temidos postes de luz ao redor do campo de futebol 

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